quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Oriente Médio à beira do abismo

Foguetes lançados do Líbano atingem Israel, que revida
JERUSALÉM - Vários foguetes disparados do Líbano atingiram o norte de Israel nesta quinta-feira, ferindo levemente duas pessoas, informaram a polícia e médicos. Os ataques podem estar relacionados com a guerra de Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza. Israel revidou com disparos de artilharia que o porta-voz do Exército israelense descreveu como "resposta precisa à fonte do ataque" - uma reação militar limitada que parece sinalizar o desejo de evitar uma escalada.Três horas mais tarde, serviços de emergência israelense disseram que pelo menos mais um foguete havia atingido o país. Aparentemente não havia vítimas.Também não havia informações de vítimas no Líbano.Ainda não estava claro se a guerrilha libanesa do Hezbollah - contra quem Israel travou uma guerra em 2006 - dispararam os foguetes ou se eles foram lançados por palestinos. O Hezbollah negou qualquer participação nos disparos e Israel culpa os palestinos que vivem no Líbano de lançar os foguetes. O ataque vindo do Líbano é um novo desafio ao Estado judeu no 13º dia de campanha militar em Gaza.
Tensão
Desde que a ofensiva israelense em Gaza começou, libaneses temem que o Hezbollah possa atacar o território israelense, abrindo uma segunda frente de combate para Israel.
O líder do grupo xiita disse na quarta-feira em discurso que suas forças estavam em alerta máximo e prontas para lutar contra Israel em caso de agressão. Foi a primeira vez que Nasrallah falou da possibilidade de uma nova guerra com os israelenses. Antes disso, Nasrallah se limitava a criticar Israel, os países árabes e a comunidade internacional por nada fazer em favor dos palestinos. O Hezbollah, assim como o Hamas, recebe forte apoio político e militar de Síria e Irã, países considerados inimigos por Israel. O primeiro-ministro libanês, Fouad Siniora, já havia declarado que se Israel atacasse o sul do Líbano, o governo entenderia como um ataque à todo o Líbano.
Pressão
Após a guerra entre Hezbollah e Israel, em 2006, o grupo xiita tem estado sob enorme pressão de seus rivais políticos no Líbano para se desarmar. Atualmente, o Hezbollah faz parte de um governo de união nacional com poder de veto sobre decisões importantes. Em fevereiro de 2008, um alto comandante militar do grupo xiita, Imad Mughniyeh, foi assassinado em um atentado com carro-bomba em Damasco, na Síria. O Hezbollah culpou Israel pela morte de Mughniyeh e jurou vingança. Em novembro, sete foguetes Katiushas foram encontrados no sul do Líbano por tropas da ONU e Exército libanês. Eles estavam programados e prontos para serem disparados contra Israel. O Hezbollah, então, pediu uma séria investigação sobre o incidente e negou ter posicionado os foguetes. Autoridades médicas palestinas afirmam que pelo menos 760 palestinos morreram desde o início dos confrontos, em 27 de dezembro. Outros 3.085 teriam ficado feridos.O número de mortos em Gaza não pode ser confirmado por fontes independentes.Por outro lado, sete soldados israelenses já morreram nos confrontos em terra e quatro civis foram mortos por foguetes palestinos.

Ataque israelense atinge comboio da ONU e agência suspende atividades em Gaza
Pelo menos um palestino foi morto nesta quinta-feira em um ataque israelense contra um comboio da ONU na Faixa de Gaza, informou Adnan Abu Hasna, porta-voz da organização. A ONU anunciou a suspensão por tempo indeterminado das operações na região. O ataque aconteceu quando os caminhões da Nações Unidas viajavam para buscar suprimentos endereçados a Gaza durante as três horas de cessar-fogo humanitário instituídas na região. "Dois morteiros atingiram de perto um caminhão do comboio que se dirigia a Erez", informou Chris Gunness, também porta-voz da organização. "Nossas instalações foram atingidas, nossos funcionários foram mortos, apesar do fato de as autoridades israelenses terem as coordenadas sobre nossas instalações e de todos os nossos movimentos serem coordenados com o Exército israelense", acrescentou. "É com grande pesar que a UNWRA (agência da ONU para os refugiados palestinos) foi forçada a tomar essa difícil decisão", completou Gunness. A agência humanitária distribui alimentos a cerca de 750 mil pessoas no território palestino. Militares israelenses disseram que vão investigar o acidente. A presidência tcheca da União Européia (UE) também lamentou a morte por fogo israelense do agente da ONU. "Após bombardear uma escola da ONU, este é outro terrível episódio, que, além disso, ocorreu durante as três horas de cessar-fogo declarado por Israel", indicou o ministro de exteriores tcheco, Karel Schwarzenberg. Também nesta quinta-feira, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha disse que Israel não está cumprindo sua obrigação de ajudar os civis feridos pelos ataques na Faixa de Gaza. Segundo a organização, seus funcionários presenciaram cenas "chocantes". Em um incidente, uma equipe médica disse ter encontrado pelo menos 12 corpos em uma casa destruída por bombardeios em Zeitun, ao sul da Cidade de Gaza. Junto aos cadáveres, de acordo com a Cruz Vermelha, estavam quatro crianças apavoradas, muito fracas para conseguir levantar, sentadas ao lado dos corpo de suas mães. A Cruz Vermelha afirma que os agentes humanitários foram impedidos de chegar ao local por dias após o bombardeio. "O Exército de Israel deve ter tomado conhecimento da situação, mas não prestou assitência aos feridos", disse chefe de operãções da Cruz Vermelha para Israel e territórios palestinos, Pierre Wettach. "E também não permitiu que nós e as equipes do Crescente Vermelho levassemos auxílio aos feridos", acrescentou.
O outro lado
Mak Regev, um porta-voz do governo israelense, disse não ter conhecimento do incidente citado pela Cruz Vermelha, mas afirmou que Israel apóia o trabalho da entidade em Gaza.
"Não tenho conhecimento, e peço desculpas, sobre os detalhes desse caso específico", afirmou Regev. "O que eu posso dizer é que Israel tem uma relação muito boa com a Cruz Vermelha."
"Nós abrimos canais de comunicação", acrescentou. "Se há problemas de coordenação, de logística, ou outras dificuldades, nós podemos solucionar essas questões", disse. "Nós apoiamos o que a Cruz Vermelha está fazendo em Gaza, queremos ajudá-los a fazer seu trabalho, nós vemos como nosso papel ajudar esses trabalhadores humanitários em Gaza e estamos tentando trabalhar com eles da maneira mais eficaz possível", disse o porta-voz. Nesta quinta-feira aconteceu o segundo cessar-fogo humanitário na Faixa de Gaza para que a população civil possa obter mantimentos. A trégua, assim como na quarta-feira, teve início às 13h e terminou às 16h (12h de Brasília), de acordo com o correspondente do iG em Israel, Nahum Sirotsky. Durante esse período, as passagens fronteiriças de Nahal Oz e Kerem Shalom deveriam estar abertas para permitir a entrada a Gaza de cargas de ajuda humanitária e combustível. A tensão aumentou, nesta manhã, quando vários foguetes disparados do Líbano atingiram o norte de Israel, ferindo levemente duas pessoas. Israel revidou com disparos de artilharia que o porta-voz do Exército israelense descreveu como"resposta precisa à fonte do ataque" - uma reação militar limitada que parece sinalizar o desejo de evitar uma escalada. O Hezbollah negou qualquer participação nos disparos e Israel culpa os palestinos que vivem no Líbano de lançar os foguetes. Desde o início do conflito, no dia 27 de dezembro, pelo menos 760 palestinos morreram, conforme autoridades médicas. Outros 3.085 teriam ficado feridos. Por outro lado, Israel diz que sete soldados morreram nos confrontos em terra e quatro civis foram mortos por foguetes palestinos.

Crise humanitária em Gaza se agrava 'de hora em hora', diz ONU
A crise humanitária na Faixa de Gaza piora "de hora em hora", alertou nesta quinta-feira a Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA), que suspendeu todas as suas atividades humanitárias depois que ataques do Exército israelense atingiram um de seus comboios, deixando dois mortos. Também nesta quinta-feira, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha disse que Israel não está cumprindo sua obrigação de ajudar os civis feridos pelos ataques na Faixa de Gaza. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, classificou de "inaceitável" o fato de o organismo não poder distribuir ajuda em Gaza, após o ataque israelense contra o comboio da agência para refugiados.
"A UNRWA se viu forçada a suspender a distribuição de alimentos por não poder garantir a segurança de seu pessoal. É inaceitável que a ONU não possa proporcionar assistência nesta crise humanitária que se está agravando", afirmou a porta-voz Michèle Montas.Ela assinalou que as informações das agências da ONU indicam que o ataque aconteceu durante a trégua de três horas proclamada pelos israelenses.Montas afirmou, ainda, que quatro funcionários da UNRWA morreram nestes 13 dias da ofensiva de Israel no território palestino, e ressaltou que as Nações Unidas mantém estreitos contatos com as autoridades israelenses para investigar este e outros incidentes, e para adotar medidas urgentes que evitem sua repetição."O secretário-geral faz de novo uma chamada por um cessar-fogo imediato que facilite o acesso humanitário completo e sem restrições (a Gaza), e permita aos voluntários trabalhar com segurança para chegar a todos os que necessitam de ajuda", acrescentou a porta-voz.
Situação dramática
Segundo o porta-voz da UNRWA em Gaza, Christopher Gunnes, cerca de 1,5 milhão de palestinos estão bloqueados no território em condições críticas. Ele afirmou também que os corredores humanitários propostos pelas Forças Armadas israelenses ainda devem ser estabelecidos "corretamente". Segundo Gunnes, os eixos viários utilizados pelos militares israelenses atrapalham a organização da ajuda, ou a possibilidade, para seus beneficiários, de se deslocar para receber os víveres. Hoje, um milhão de pessoas estão sem luz e 750 mil estão sem água."As pessoas já estão nos dizendo que têm fome, e essa insegurança alimentar cresce", completou o porta-voz da agência da ONU, lembrando que alguns lugares da Faixa de Gaza continuam isolados e afastados de qualquer ajuda humanitária. Elena Mancusi Materi, porta-voz da UNRWA em Genebra, disse que a interrupção diária dos confrontos pelo período de três horas, uma determinação do governo israelense, é insuficiente. "Do ponto de vista operacional, três horas não fazem nenhuma diferença", declarou a porta-voz. "Temos de distribuir a comida para 750.000 refugiados em Gaza e não podemos fazer isso em três horas", ressaltou.A situação sanitária também é dramática. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o sistema médico palestino está "à beira do colapso", com hospitais sobrecarregados, pessoal médico esgotado fisicamente dpor trabalhar sem parar há quase duas semanas. Os hospitais estão funcionando graças a geradores, que poderão parar a qualquer momento devido à falta de combustível, acrescentou a OMS."Todos os programas de vacinação foram interrompidos em 27 de dezembro", anunciou a OMS, que teme o ressurgimento de doenças normalmente combatidas por essas vacinas, caso os programas não sejam retomados logo.
Cruz Vermelha
Também nesta quinta-feira, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha disse que Israel não está cumprindo sua obrigação de ajudar os civis feridos pelos ataques na Faixa de Gaza.
Segundo a organização, seus funcionários presenciaram cenas "chocantes". Em um incidente, uma equipe médica disse ter encontrado pelo menos 12 corpos em uma casa destruída por bombardeios em Zeitun, ao sul da Cidade de Gaza. Junto aos cadáveres, de acordo com a Cruz Vermelha, estavam quatro crianças apavoradas, muito fracas para conseguir levantar, sentadas ao lado dos corpo de suas mães. A Cruz Vermelha afirma que os agentes humanitários foram impedidos de chegar ao local por dias após o bombardeio. "O Exército de Israel deve ter tomado conhecimento da situação, mas não prestou assitência aos feridos", disse chefe de operãções da Cruz Vermelha para Israel e territórios palestinos, Pierre Wettach. "E também não permitiu que nós e as equipes do Crescente Vermelho levassemos auxílio aos feridos", acrescentou.
Mak Regev, um porta-voz do governo israelense, disse não ter conhecimento do incidente citado pela Cruz Vermelha, mas afirmou que Israel apoia o trabalho da entidade em Gaza.
"Não tenho conhecimento, e peço desculpas, sobre os detalhes desse caso específico", afirmou Regev. "O que eu posso dizer é que Israel tem uma relação muito boa com a Cruz Vermelha."
"Nós abrimos canais de comunicação. Se há problemas de coordenação, de logística, ou outras dificuldades, nós podemos solucionar essas questões", disse o porta-voz. "Nós apoiamos o que a Cruz Vermelha está fazendo em Gaza, queremos ajudá-los a fazer seu trabalho."

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