sábado, 17 de maio de 2008

1968, O ANO QUE NÃO ACABOU.

O mundo parecia de cabeça para baixo. Faz 40 anos que esse turbilhão mundial aconteceu. Confira à seguir os principais fatos deste ano revolucionário:

Primavera de Praga


A Primavera de Praga, realizada em 1968 na Tchecoslováquia, é o movimento liderado por intelectuais reformistas do Partido Comunista Tcheco interessados em promover grandes mudanças na estrutura política, económica e social do país. A experiência de um "socialismo com face humana” foi comandada pelo líder do Partido Comunista local, Alexander Dubcek. A proposta surpreendeu a sociedade tcheca, que em 5 de Abril de 1968 soube das propostas reformistas dos intelectuais comunistas.
O objetivo de Dubcek era "desestalinizar" o país, removendo os vestígios de despotismo e autoritarismo, que considerava aberrações no sistema socialista. Com isso, o secretário-geral do partido prometeu uma revisão da Constituição, que garantiria a liberdade do cidadão e os direitos civis. A abertura política abrangia o fim do monopólio do partido comunista e a livre organização partidária, com uma Assembléia Nacional que reuniria democraticamente todos os segmentos da sociedade tcheca. A liberdade de imprensa, o Poder Judiciário independente e a tolerância religiosa eram outras garantias expostas por Dubcek.
As propostas foram apoiadas pela população. O movimento que propôs a mudança radical da Tchecoslováquia, dentro da área de influência da União Soviética, foi chamada de Primavera de Praga. Assim sendo, diversos setores sociais se manifestaram em favor da rápida democratização. No mês de junho, um texto de “Duas Mil Palavras” saiu publicado na Liternární Listy (Gazeta Literária), escrito por Ludvík Vaculík e assinado por personalidades de todos sectores sociais, pedindo a Dubcek que acelerasse o processo de abertura política. Eles acreditavam que era possível transformar, pacificamente, um regime ortodoxo comunista para uma social-democracia aos moldes ocidentais. Com estas propostas, Dubcek tentava provar a possibilidade de uma economia coletivizada conviver com ampla liberdade democrática.
A União Soviética, temendo a influência que uma Tchecoslováquia democrática e socialista, independente da influência soviética e com garantias de liberdades à sociedade, pudesse passar às nações socialistas e às "democracias populares", mandou tanques do Pacto de Varsóvia invadirem a capital Praga em 20 de Agosto de 1968. Dubcek foi detido por soldados soviéticos e levado a Moscou . Na cidade de Praga a população reagiu a invasão soviética de forma não violenta, desnorteando as tropas. A organização quase espontânea foi em parte liderada pela cadeia de vários pequenos transmissores construídos às pressas por membros do exército tcheco e aficcionados por radiotransmissores: a Rádio Tchecoslováquia Livre. Cada emissora transmitia instruções para a população por não mais que 9 minutos e depois saia do ar, dando o espaço para uma outra, impossibilitando assim a triangulação do sinal. Suas instruções eram para a população manter a calma e sobretudo não colaborar com os invasores. Os russos ainda tentaram trazer uma potente estação de rádio para criar interferências nos sinais, porém, os ferroviários tchecos com uma extrema negligência, atrasaram a entrega e quando a estação chegou ao seu destino estava inutilizável.
Os russos conseguiram uma ocupação total em poucas horas, porém chegaram a um impasse político, as diversas tentativas para criar um governo colaboracionista fracassaram e a população tcheca foi eficiente em minar a moral das tropas. No dia 23 se iniciou uma greve geral e no dia 26 se publicou o decálogo da não cooperação:não sei, não conheço, não direi, não tenho, não sei fazer, não darei, não posso, não irei, não ensinarei, não farei!
A paralisação dos trens, interrompeu a comunicação com os países aliados e para evitar que os tanques chegassem até Praga, as placas foram invertidas e depois pintadas com uma tinta fácil de se raspar, quando os soldados raspavam as tintas para verem a indicação correta, acabavam indo na direção de Moscou.
Enquanto isso, os raptores contavam a Dubcek que a população tcheka estava sendo massacrada como fora a população húngara 12 anos antes, o que o levou a assinar um acordo de renúncia.
As reformas foram canceladas e o regime de partido único continuou a vigorar na Tchecoslováquia. Em protesto contra o fim das liberdades conquistadas, o jovem Jan Palach ateou fogo ao próprio corpo numa praça de Praga em 16 de Janeiro de 1969.
Um dos livros que fazem referência à Primavera de Praga é o Livro "A Insustentável Leveza do Ser", de Milan Kundera. Relata o Amor de dois casais e seus conflitos amorosos. Bastante repetição de acontecimentos. Vistos de outros ângulos. Ótima leitura para quem quiser se "familiarizar" mais um pouco com a Primavera de Praga. Uma luta heróica de um Povo em busca da verdadeira Liberdade
Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Primavera_de_Praga"


A Guerra do Vietnã












A reação contra a guerra e a contra-cultura







A participação crescente dos EUA na Guerra e a brutalidade e inutilidade dos bombardeios aéreos - inclusive com bombas napalm - fez com que surgisse na américa um forte movimento contra a guerra. Começou num bairro de São Francisco, na Califórnia, o Haight - Aschbury, com "as crianças das flores" (flower children), quando gente jovem lançou o movimento "paz e amor" (peace and love), rejeitando o projeto da Grande Sociedade do pres. Johnson.A partir de então tomou forma a movimento da contra-cultura - chamado de movimento hippy - que teve enorme influência nos costumes da geração dos anos 60, irradiando-se pelo mundo todo. Se a sociedade americana era capaz de cometer um crime daquele vulto, atacando uma pobre sociedade camponesa no sudeste asiático, ela deveria ser rejeitada. Se o americano médio cortava o cabelo rente como um militar, a contracultura estimulou o cabelo despenteado, cumprido, e de cara com barba. Se o americano médio tomava banho, opunham-se a ele andando sujos. Se aqueles andavam de terno e gravata, aboliram-na pelo brim e pela sandália. Repudiaram também a sociedade urbana e industrial, propondo o comunitarismo rural e a atividade artesanal, vivendo da fabricação de pequenas peças, de anéis e colares. Se o tabaco e o álcool era a marca registrada da sociedade tradicional, aderiram à maconha e aos ácidos e as anfetaminas. Foram os grandes responsáveis pela prática do amor livre e pela abolição do casamento convencional e pela cultura do rock. Seu apogeu deu-se com o festival de Woodstock realizado no Estado de N.York, em 1969.A revolta instalou-se nos Campi Universitários, particularmente em Berkeley e em Kent onde vários jovens morrem num conflito com a Guarda Nacional. Praticamente toda a grande imprensa também se opôs ao envolvimento. Surgiu entre os negros os Panteras Negras (The Black Panthers) um expressivo grupo revolucionário que pregava a guerra contra o mundo branco americano da mesma forma que os vietcongs. Passeatas e manifestações ocorriam em toda a América. Milhares de jovens negaram-se, pela primeira vez na história do país, a servir no exército, desertando ou fugindo para o exterior.Esse clima espalhou-se para outros continentes e, em 1968, em março, eclodiu a grande rebelião estudantil no Brasil contra o regime militar, implantado em 1964, e em maio, na França, a revolta universitária contra o governo do Gen. de Gaulle. Outras ainda ocorreram no México e na Alemanha e Itália. O filósofo marxista Herbert Marcuse afirmou que a revolução seria feita doravante pelos estudantes e outros grupos não assimilados pela sociedade de consumo conservadora.


A ofensiva do Ano Tet e o desengajamento






Em 30 de janeiro de 1968, os vietcongs fizeram uma surpreendente ofensiva - a ofensiva do Ano Tet (o ano lunar chinês) - sobre 36 cidades sul-vietnamitas, ocupando inclusive a embaixada americana em Saigon. Morreram 33 mil vietcongs nessa operação arriscada, pois expôs quase todos os quadros revolucionários, mas foi uma tremenda vitória política. O gen. Wetsmoreland, que havia dito que "já podia ver a luz no fim do túnel", predizendo uma vitória americana para breve, foi destituído, e o presidente Johnson foi obrigado a aceitar negociações, a serem realizadas em Paris, além de anunciar sua desistência de tentar a reeleição. Para a opinião pública americana tratava-se agora de sair daquela guerra de qualquer maneira. O novo presidente eleito, Richard Nixon, assumiu o compromisso de "trazer nossos rapazes de volta", fazendo com que lentamente as tropas americanas se desengajassem do conflito. O problema passou a ser de que maneira os Estados Unidos poderiam obter uma "retirada honrosa" e manter ainda o seu aliado, o governo sul-vietnamita.Desde 1963, quando os militares sul-vietnamitas, apoiados pelos americanos, derrubaram e mataram o ditador Diem (aquela altura extremamente impopular), os sul-vietnamitas não conseguiram mais preencher o vácuo de sua liderança. Uma série de outros militares assumiram a chefia do governo transitoriamente enquanto os combates mais e mais eram tarefa dos americanos. Nixon passou a reverter isso, fazendo com que os sul-vietnamitas voltassem a ser encarregados das operações. Chamou-se isso de "vietnamização" da guerra. Imaginou que abastecendo-os o suficiente de dinheiro e armas eles poderiam lutar sozinhos contra o vietcong. Transformou o presidente Van Thieu num simples títere desse projeto. Enquanto isso as negociações em Paris marcavam passo. Em 1970, Nixon ordenou o ataque a célebre trilha Ho Chi Minh que passava pelo Laos e Camboja e que servia como estrada de abastecimento do vietcong. Estimulou também um golpe militar contra o neutralista príncipe N.Sianouk do Camboja, o que provocou uma guerra civil naquele país entre os militares direitistas e os guerrilheiros do Khmer Vermelho (Khmer Rouge) liderados por Pol Pot.
fonte: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/guerra_vietna9.h


FALECIMENTO DE YURI GAGARIN
Com a morte de Gagarin a cega crueldade doou-lhe eterna juventude. Ele não entrou, ele irromperu na história da humanidade na manhã de abril de 1961 a partir do cosmódromo de Baikonur. E ficou nela para todo o sempre nas proximides da cidade russa de Kirjatch, em março de 1968. Decorreram os anos, aliviou-se a dor, mas o peso da perda ficará para sempre.
…Iuri Gagarine morreu num acidente aéreo em 27 de Março de 1968 durante o voo de treino num avião militar de estudo juntamente com o piloto de provas Vladimir Serioguine que tinha a missão de ver se o coronel Gagarine estava preparado para recomeçar (depois de um intervalo de oito anos) voos independentes num caça militar. O retorno de Gagarine ao avião podia dar início a um novo e frutífero período da sua vida. Já estava farto de se sentir um boneco ou de uma relíquia de museu. Não gostava desta vida. Gagarin queria voar mais e mais. Ele se preparava para um novo voo à órbita. Dos preparativos faziam parte também os voos de treinamento em aviões. Um deles – o último – juntamente com Vladímir Serioguin, piloto-instrutor muito experiente, iniciou-se de manhã de 27 de março. Depois de um meticuloso exame médico no aeródromo eles ocuparam os seus lugares na cabina do avião MIG. Às 10 horas e 19 minutos Gagarin levantou o avião para o ar. O voo decorria entre duas camadas de nuvens quase densas. Doze minutos depois de levantar voo, Gagarine informou a direcção de que a missão fora cumprida e obtivera a autorização para voltar ao aeródromo. Depois disso o intercâmbio de mensagens pelo rádio cessou. O avião não respondia a nenhumas interrogações. Aproximadamente um minuto depois deu-se o desastre. À noite, foram descobertos os escombros do avião e os restos mortais dos dois pilotos.
O que foi estabelecido pela investigação? Durante o voo os equipamentos do avião funcionavam bem, não houve incêndio nem explosão. No momento do choque com a terra o motor funcionava, os pilotos não empreenderam a tentativa de catapultar-se. A destruição do avião ocorreu apenas durante o seu choque com o chão. Foi estabelecido fidedignamente que um minuto antes da morte Gagarin se encontrava num estado absolutamente normal. Ele falava tranquila e comedidamente. A capacidade de trabalho da tripulação era boa.
A comissão estabeleceu que durante o regresso à base o avião passou ao voo picado em consequência de algum acontecimento imprevisto. Os especialistas puderam apresentar algumas causas mais prováveis. Ao se aproximar do limite da camada de nuvens, os pilotos podiam tomar os seus contornos rasgados por um obstáculo surgido inesperadamente: um avião em voo, um balão-sonda ou um bando de aves. Isso podia levar a uma brusca manobra do avião. O mais provável é que esta manobra tenha provocado o "voo de parafuso" e o aparelho, ficando desgovernável, começou a cair. Para se salvar, a Gagarin e Serioguin faltaram apenas 250 a 300 metros de altitude e apenas 2 segundos de voo…
São assim as palavras do veterano da cosmonáutica nacional Vladimir Chatalov: "Yuri Gagarin não está conosco. E mesmo assim ele continua presente em cada novo voo. Milhares de pesoas participam hoje na exploração do cosmos. E todas elas se lembram e se lembrarão sempre do nome do primeiro cosmonauta Yuri Gagarin, Colombo do Universo".
O PROJETISTA GERAL DA CORPORAÇÃO ESPACIAL "ENÉRGUIA" SOBRE A ESTAÇÂO ESPACIAL "MIR" E AS PERSPETIVAS DA COSMONÁUTICA INTERNACIONAL.
O projetista geral da corporação espacial "Enérguia" Iuri Semionov visitou a "Voz da Rússia" onde participou do programa regular "Face a face ao mundo".
No início da entrevista Iuri Semionov deteve-se nas realizações obtidas na estação espacial "Mir" que ele próprio projetou outrora e que foi recentemente afundada.
"Esta foi realmente uma estação única do gênero – disse Iuri Semionov. – Ela lançou a base de todos os futuros complexos orbitais. A bem da verdade é preciso dizer que esta foi a primeira estação internacional. E não de modo algum a 'Alfa' como os EUA denominam a Estação Espacial Internacional. Eu a denominaria de 'Beta', pois todas as soluções técnicas testadas na 'Mir' são usadas hoje na EEI. Claro que o afundamento da 'Mir' foi um acontecimento triste, mas não há nada eterno e isso devia realizar-se. E o fato de termos efetuado a descida e o afundamento da estação na região prevista constitui também, a meu ver, grande realização da cosmonáutica nacional. Hoje em dia a EEI não pode ser comparada com aquilo que tivemos na 'Mir'. Ali havia mais aparelhos do que hoje na EEI. Temos de elevar a EEI ao nível pelo menos comparável com a 'Mir'. Tudo depende do financiamento que hoje é insuficiente para que eu diga que este nível será obtido. Quanto às supertecnologias, elas exigem sempre uma determinada idéia. Atualmente a Rússia dispõe de um potencial científico-técnico que pode proporcionar sérias idéias e elas existem hoje. Exibimos a plataforma 'Lançamento Marítimo', hoje construimos a 'Aurora', fabricamos os satélites de comunicação e realizamos a sondagem da Terra à distância. A nossa organização dispõe de um enorme potencial científico-técnico".



Edson Luís de Lima Souto






No dia 28 de março de 1968, os estudantes do Rio de Janeiro estavam organizando uma passeata relâmpago para protestar contra a alta do preço da comida no restaurante Calabouço, que deveria acontecer no final da tarde do mesmo dia.
Por volta das dezoito horas, a Polícia Militar chegou ao local e dispersou os estudantes que estavam na frente do complexo. Os estudantes se abrigaram dentro do restaurante e responderam à violência policial utilizando paus e pedras. Isso fez com que os policiais recuassem e a rua ficasse deserta. Quando os políciais voltaram, tiros começaram a ser disparados do Edifício da Legião Brasileira de Assistência, o que provocou pânico entre os estudantes, que fugiram.
Os policiais acreditavam que os estudantes iriam atacar a Embaixada dos Estados Unidos e acabaram por invadir o restaurante. Durante a invasão, o comandante da tropa da PM, aspirante Aloísio Raposo, atirou e matou o secundarista Edson Luís com um tiro a queima roupa no peito. Outro estudante, Benedito Frazão Dutra, chegou a ser levado ao hospital, mas também morreu.
Temendo que o PM sumisse com o corpo, os estudantes não permitiram que ele fosse levado para o Instituto Médico Legal, mas o carregaram em passeata diretamente para a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, onde foi velado. A necrópsia foi feita no próprio local pelos médicos Nilo Ramos de Assis e Ivan Nogueira Bastos, sob cerco da Polícia Militar e de agentes do DOPS.
No período que se estendeu do velório até a missa da Candelária, realizada em 2 de abril foram mobilizados protestos em todo o país.
Em São Paulo, quatro mil estudantes fizeram uma manifestação na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Também foram realizadas manifestações no Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade São Francisco, na Escola Politécnica da USP e na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo[4].

Mataram um estudante. Podia ser seu filho!

— Palavra de ordem durante o enterro de Edson Luis
O Rio de Janeiro parou no dia do enterro. Para expressar seu protesto, os cinemas da Cinelândia amanheceram anunciando três filmes: A noite dos Generais, À queima-roupa e Coração de Luto. Centenas de cartazes foram colados na Cinelândia com frases como "Bala mata fome?", "Os velhos no poder, os jovens no caixão" e "Mataram um estudante. E se fosse seu filho?".
Edson Luis foi enterrado ao som do Hino Nacional Brasileiro, cantado pela multidão.
Na manhã do dia 2 de abril foi realizada um missa na Igreja da Candelária em memória de Edson. Após o término da missa, as pessoas que deixavam a igreja foram cercadas e atacadas pela cavalaria da Polícia Militar com golpes de sabre. Dezenas de pessoas ficaram feridas.
Outra missa seria realizada na noite do mesmo dia. O governo militar proibiu a realização dessa missa, mas o vigário-geral do Rio de Janeiro, D. Castro Pinto, insistiu em realizá-la. A missa foi celebrada com cerca de seiscentas pessoas.
Temendo que o mesmo massacre da manhã se repetisse, os padres pediram que ninguém saísse da igreja. Do lado de fora haviam três fileiras de soldados a cavalo com os sabres desembanhados, mais atrás estava o Corpo de Fuzileiros Navais e vários agentes do DOPS.
Num ato de coragem, os clérigos saíram na frente de mãos dadas, fazendo um "corredor" da porta da igreja até a rua Rio Branco para que todos os que estavam na igreja pudessam sair com segurança. Apesar desse ato, a cavalaria aguardou que todos saíssem e os encurralaram nas ruas da Candelária. Novamente o saldo foi de dezenas de pessoas feridas.


Martin Luther King

A história está repleta de casos de violações dos direitos humanos. Contra tais injustiças, lutaram homens e mulheres que, em comum, tiveram a disposição de combater destemidamente a desigualdade. Martin Luther King Jr. era uma dessas pessoas. A exemplo do pai da independência da Índia, Mahatma Gandhi, Luther King tornou-se defensor da filosofia da não-violência e liderou, a partir de 1955, uma campanha pacífica pela justiça para o povo negro americano. A idéia era derrubar os preconceitos que a abolição da escravatura conseguida por Abraham Lincoln em 1863, durante a Guerra Civil Americana, não havia sido capaz de destruir. A liberdade obtida pela nova Constituição não livrou os negros da discriminação, especialmente nos estados do sul dos EUA, onde a divisão racial era amparada pela lei. Naquela época, nenhum negro podia freqüentar um restaurante reservado a brancos ou sentar em lugares reservados a eles.
Após a Guerra Civil americana, a situação piorou. Todas as terras eram de propriedade dos brancos e, na prática, embora livre, a população negra manteve-se pobre e perseguida. Seis décadas depois, nascia Martin Luther King (15 de janeiro de 1929, em Atlanta, no estado da Geórgia, cidade do extremo sul dos EUA). O pai era pastor da Igreja Batista Ebenezer. Por isso, Luther King passou a infância memorizando versículos da Bíblia e cantando gospels para a congregação. E, como toda criança negra, cresceu marcado pelo preconceito racial. Ainda assim, freqüentou umas das melhores faculdades da comunidade negra do país, a Morehouse College, onde eram incentivadas as discussões sobre problemas sociais. Lá, por influência do presidente da faculdade, que acreditava que a Igreja teria um papel decisivo a desempenhar na sociedade americana, Martin deixou de lado a idéia de ser médico ou advogado. Assim, aos 17 anos, foi ordenado e tornou-se pastor assistente da igreja de seu pai. Mas não parou de estudar. Dois anos depois, graduou-se em Sociologia na Morehouse College e ingressou no Seminário de Crozer, na Pensilvânia, no norte dos EUA, onde leu trabalhos de famosos teólogos e filósofos, entre eles Henry Thoreau, um abolicionista. Formou-se em Teologia como o melhor aluno de sua classe e, depois, iniciou o doutorado na Universidade de Boston.
O início da luta
Foi nessa época que conheceu Coretta Scott, uma estudante de Música, com quem se casou em 18 de junho de 1953. No ano seguinte, aceitou o convite para pastorear a Igreja Batista da avenida Dexter, em Montgomery, no Alabama, estado situado no Sul, foco dos maiores conflitos raciais do país. Em 1955, já doutor em Teologia (quando passou a ser conhecido como o "reverendo" King), Martin via a comunidade negra totalmente submissa, com medo de lutar contra as injustiças raciais. Os ônibus da cidade eram guiados somente por motoristas brancos, e só os últimos bancos eram permitidos aos negros.
No dia 1º- de dezembro de 1955, uma garota negra chamada Rosa Parks embarcou num ônibus e se recusou a dar lugar para um passageiro branco. A prisão de Rosa levou Luther King e seus seguidores a iniciar, no dia 5 de dezembro, um boicote contra os serviços rodoviários de Montgomery. Com a manutenção do boicote por quase um ano, as autoridades racistas usaram uma velha lei antiboicote para acabar com o movimento e prender 89 pessoas, incluindo Martin Luther King.
Inspirados pelo sucesso do boicote em Montgomery, outros movimentos começaram a se espalhar, protestando contra a discriminação racial no Sul, e tornaram-se o ponto de partida da cruzada de Luther King, que usava o amor, a oração e o discurso como uma ação direta contra a violência física. No lançamento de seu livro A Caminho da Liberdade, sofreu um atentado durante uma sessão de autógrafos. Uma mulher negra, de meia-idade, com passagens em vários hospitais psiquiátricos, cravou um abridor de cartas em seu peito. Levado às pressas para o hospital, King sofreu uma cirurgia extremamente delicada e sobreviveu. Participou de várias marchas de protesto e, como resultado, aos poucos foi somando conquistas. Ajudou a acabar com a segregação racial nas escolas, restaurantes, bares e outros locais, e sua ação foi fundamental na decisão do governo dos EUA de tornar prioritária a questão dos direitos civis.
Em 28 de agosto de 1963, King reuniu 250 mil pessoas na Marcha sobre Washington. Deixando de lado suas anotações, fez, das escadarias do Lincoln Memorial, aquele que foi tido como o maior discurso do movimento pelos direitos civis: "I had a dream" ("Eu tive um sonho"). Orador apaixonado e persuasivo, considerado por muitos como o melhor dos Estados Unidos, Luther King tornou-se capa da revista Time de 3 de janeiro de 1964, recebendo o título de Homem do Ano de 1963.
Os atentados a bomba, as execuções de negros e outros atos de violência continuaram, mas a história tomou um rumo sem volta. No dia 2 de julho de 1964, o presidente americano Lyndon Johnson assinou o Ato dos Direitos Civis e foi à televisão. "Aqueles que antes eram iguais perante Deus serão agora iguais nas seções eleitorais, nas salas de aula, nas fábricas e nos hotéis, nos restaurantes, cinemas e outros lugares que prestem serviços ao público", disse Johnson.
Em outubro de 1964, King recebeu o Prêmio Nobel da Paz e iniciou uma nova luta: uma campanha de registro nas juntas eleitorais. Para garantir o direito, o governo federal interveio e presidente Lyndon Johnson assinou, em 1965, a Carta dos Direitos do Voto. Em abril de 1968, em meio a diversas manifestações violentas do movimento Black Power (Poder Negro) em cidades como Chicago, Boston, Los Angeles e Filadélfia, Martin Luther King foi a Memphis para dar apoio a trabalhadores negros que lutavam pela igualdade salarial. No dia 3 de abril, na véspera do protesto, ele proferiu seu último discurso, profético - "I see the promise land" ("Eu vejo a terra prometida") - na sede da Igreja de Deus em Cristo, a maior denominação pentecostal americana africana dos EUA.
No dia 4, à noite, King estava no terraço do hotel, quando foi atingido no pescoço por um tiro disparado do telhado de um prédio vizinho. Gravemente ferido e levado às pressas para o hospital, Martin Luther King, aos 39 anos, morreu uma hora depois. Seu funeral, realizado no dia 8 de abril, foi acompanhado por sua mulher e seus quatro filhos, e assistido pela TV por 120 milhões de americanos. Sobre a sepultura, gravadas na lápide de mármore, as palavras de uma velha canção de escravos: "Free at last, free at last/Thank God Almighty/I´m free at last" ("Finalmente livre, finalmente livre/Obrigado Deus Todo-Poderoso/Finalmente sou livre).

fonte: http://minerva.ufpel.edu.br/~castro/king.htm


ASSIS CHATEAUBRIAND



Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de MeIo nasceu a 5 de outubro de 1892, já no final do século XIX, em Umbuzeiro, no Estado da Paraíba.
Custeou seus próprios estudos até se tornar advogado e, depois, pro­fessor catedrático de Direito Romano, Senador, Embaixador e Membro da Academia Brasileira de Letras.
Mas Chateaubriand foi, antes de tudo, um jornalista — ou um repór­ter, como se autodefinia. Um jornalista que acabou construindo o com­plexo empresarial chamado Diários Associados, por meio do qual pres­tou inestimáveis serviços ao país. “Em toda a minha vida, tenho sido ape­nas um repórter”, dizia ele. Mas Assis Chateaubriand foi muito além da notícia, mesmo quando, aos 14 anos, começou a escrever para o Jornal de Recife e o Diário de Pernambuco, fazendo comentários políticos e en­trevistando personalidades que chegavam nos navios.
O diário O Jornal, adquirido em 1924, foi o ponto de partida para o complexo empresarial que iria formar, incluindo o Diário da Noite de São, Paulo, o Estado de Minas em Belo Horizonte, o Correio Braziliense — em 1960, na inauguração de Brasília — o Jornal do Commercio do Rio de Janeiroeo Diário de Pernambuco — estes, os dois mais antigos jornais em circulação da América Latina — e mais de 30 jornais em todo o País. Foi também Assis Chateaubriand quem lançou o Brasil na era da televi­são, inaugurando a TV Tupi Difusora São Paulo em 1950. Era a primeira estação de TV da América Latina e a ela se juntaram 18 estações asso­ciadas. Antes de ser um empresário de comunicação, criador de um com­plexo empresarial que espalhava jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão por todos os Estados do Brasil, Assis Chateaubriand foi um ho­mem de muita comunicação. Por isso, criou também um império de ami­gos. Hoje, Chateaubriandcontinuafazendoamigos,24anosdepoisde sua morte.
Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de MeIo morreu no dia 4 de abril de 1968, em pleno ato de viver, mas suas idéias e obras conti­nuam vivas, algumas nas memórias e outras no dia-a-dia de todos nós.


MAIO DE 68, A GRANDE REVOLUÇÃO.











Slogans nos muros e cartazes espalhados por Paris marcaram o movimento.Irreverentes, buscavam provocar os cidadãos e as autoridades francesas.

Uma das principais marcas dos protestos de estudantes e operários na França, em 1968, foram os slogans escritos nos muros e cartazes espalhados por Paris, das faculdades de Sorbonne, Nanterre e Belas Artes aos arredores do Teatro Odéon e dos Boulevards Saint-Michel e Saint-Germain.
Irreverentes e provocadoras, de forte teor surrealista, as mensagens eram dirigidas não só ao poder, aos patrões e à polícia -mas também aos próprios estudantes e às instituições da esquerda tradicional. Confira abaixo 68 desses slogans*: "Abaixo a sociedade de consumo." "Abaixo o realismo socialista. Viva o surrealismo." "A ação não deve ser uma reação, mas uma criação." "O agressor não é aquele que se revolta, mas aquele que reprime." "Amem-se uns aos outros." "O álcool mata. Tomem LSD." "A anarquia sou eu." "As armas da crítica passam pela crítica das armas." "Parem o mundo, eu quero descer." "A arte está morta. Nem Godard poderá impedir." "A arte está morta, liberemos nossa vida cotidiana." "Antes de escrever, aprenda a pensar." "A barricada fecha a rua, mas abre a via." "Ceder um pouco é capitular muito." "Corram camaradas, o velho mundo está atrás de vocês." "A cultura é a inversão da vida." "10 horas de prazer já." "Proibido não colar cartazes." "Abaixo do calçamento, está a praia." "A economia está ferida, pois que morra!" "A emancipação do homem será total ou não será." "O estado é cada um de nós." “A humanidade só será feliz quando o último capitalista for enforcado com as tripas do último esquerdista.” "A imaginação toma o poder." "A insolência é a nova arma revolucionária." "É proibido proibir." "Eu tinha alguma coisa a dizer, mas não sei mais o quê." "Eu gozo." "Eu participo. Tu participas. Ele participa. Nós participamos. Vós participais. Eles lucram." "Os jovens fazem amor, os velhos fazem gestos obscenos." "A liberdade do outro estende a minha ao infinito." "A mercadoria é o ópio do povo." "As paredes têm ouvidos. Seus ouvidos têm paredes." "Não mudem de empregadores, mudem o emprego da vida." "Nós somos todos judeus alemães." "A novidade é revolucionária, a verdade, também." "Fim da liberdade aos inimigos da liberdade." "O patrão precisa de ti, tu não precisas do patrão." "Professores, vocês nos fazem envelhecer." "Quanto mais eu faço amor, mais tenho vontade de fazer a revolução. Quanto mais faço a revolução, mais tenho vontade de fazer amor." "A poesia está na rua." "A política se dá na rua." "Os sindicatos são uns bordéis." "O sonho é realidade." "Só a verdade é revolucionária." "Sejam realistas, exijam o impossível." "Tudo é Dadá." "Trabalhador: você tem 25 anos, mas seu sindicato é de outro século." "Abolição da sociedade de classes." "Abram as janelas do seu coração." "A arte está morta, não consumamos o seu cadáver. " "Não nos prendamos ao espetáculo da contestação, mas passemos à contestação do espetáculo. " "Autogestão da vida cotidiana" "A felicidade é uma ideia nova." "Teremos um bom mestre desde que cada um seja o seu." "Camaradas, o amor também se faz na Faculdade de Ciências." "Ainda não acabou!" "Consuma mais, viva menos." "O discurso é contra-revolucionário. " "Escrevam por toda a parte!" "Abraça o teu amor sem largar a tua arma." "Enraiveçam-se!" "Ser rico é se contentar com a pobreza?" "Um homem não é estupido ou inteligente: ele é livre ou não é." "Adoro escrever nas paredes." "Decretado o estado de felicidade permanente." "Milionários de todos os países, unam-se, o vento está mudando." "Não tomem o elevador, tomem o poder."



Maio de 68 foi auge da década em que jovens "aceleraram" a história

O mês de maio de 1968 representou o auge de um momento histórico de intensas transformações políticas, culturais e comportamentais que marcaram a segunda metade do século 20.
Em Maio de 68, a partir de manifestações estudantis ocorridas nas universidades francesas de Nanterre e Sorbonne, irromperam sucessivos movimentos de protestos em diversas universidades de países da Europa e das Américas, que ganharam uma dimensão ainda maior com a ampliação das revoltas para a classe trabalhadora.

Na França, protestos eclodiram nas universidades em Maio de 68 contra a rigidez do sistema educacional. Na verdade, estes foram parte de uma expressão mais ampla de contracultura dos anos 60, que contestou valores morais julgados "incompatíveis" com os novos tempos.
Entre os símbolos das transformações tecnológicas, sociais e comportamentais na França estavam o automóvel --pessoas eram atropeladas nas ruas por não conseguirem calcular a velocidade dos carros--; a minissaia e a calça jeans --que representavam a emancipação feminina e a modernidade; a valorização das crianças --que até então "não existiam", pois não havia a compreensão da infância, e elas eram tratadas como "adultos em miniatura".

Em Maio de 68, a França concentrou em um mês as transformações sociais de uma década que já ocorriam nos Estados Unidos e em países da Europa e da América Latina.
Em 30 dias, os estudantes criaram barricadas, formando verdadeiras trincheiras de guerra nas ruas de Paris para confrontar a polícia. Mais do que isso, os jovens tiveram idéias e criaram frases tidas como as mais "ousadas" da segunda metade do século 20.
Em discursos nas ruas e nas universidades, em cartazes e muros, os estudantes franceses deixaram as salas de aula e se mobilizaram para dar a seus professores, pais e avós, e às instituições e ao governo "lições" sobre os "novos tempos, a liberdade e a rebeldia".

"O que queremos, de fato, é que as idéias voltem a ser perigosas", diziam os integrantes do grupo de intelectuais de esquerda chamado de "Internacional Situacionista", entre os quais o mais destacado foi Guy Debord.

A França dos anos de 1960, sob o comando do general Charles De Gaulle, era uma sociedade culturalmente conservadora e fechada, vivendo ainda o reflexo das perdas sofridas durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Nas escolas francesas, as crianças eram disciplinadas com rigidez. As mulheres francesas tinham o costume de pedir autorização aos maridos para expressarem uma opinião, e a homossexualidade era diagnosticada pelos médicos como uma doença.
O Maio de 68 mudou profundamente as relações entre raças, sexos e gerações na França, e, em seguida, no restante da Europa. No decorrer das décadas, as manifestações ajudaram o Ocidente a fundar idéias como as das liberdades civis democráticas, dos direitos das minorias, e da igualdade entre homens e mulheres, brancos e negros e heterossexuais e homossexuais.

O Maio de 68 francês rapidamente repercutiu em vários países da Europa e do mundo, de uma forma direta e imediata. As ocupações de universidades se multiplicaram a partir da França, e ocorreu a expansão das mobilizações entre os trabalhadores europeus e latino-americanos, em muitos casos em aliança com os estudantes.

O movimento francês teve início na Universidade de Nanterre, nos arredores de Paris, que foi cercada no final de abril por estudantes liderados por Daniel Cohn-Bendit. O protesto dos estudantes logo se dirigiu à capital.
Em 5 de maio, cerca de 10 mil estudantes entraram em choque com policiais no bairro laitino Quartier Latin, em Paris, em um protesto contra o fechamento de outra universidade francesa, a Sorbonne, em Paris.
Em seguida, em 10 de maio, ocorre a Noite das Barricadas, quando 20 mil estudantes enfrentaram a polícia nas universidades e ruas de Paris.
No dia 13, estudantes e trabalhadores franceses unificam seus movimentos e decretam uma greve geral de 24 horas em Paris, em protesto contra as políticas trabalhista e educacional do governo do general De Gaule.
No dia 20, a mobilização atinge seu auge: Paris amanhece sem metrô, ônibus, telefones e outros serviços. Cerca de 6 milhões de grevistas ocupam as 300 fábricas da França.
A Universidade de Sorbonne, ocupada pelos estudantes, começa uma outra batalha, em que as maiores "armas" foram as palavras. Surgiram frases que expressavam a política "libertária" desejada pelos jovens universitários: "A imaginação ao poder", "É proibido proibir", "Abaixo a universidade" e "Abaixo a sociedade espetacular mercantil".
Mundo
É difícil precisar quais acontecimentos e protestos em outros países foram conseqüência direta do maio francês. Na Europa, Espanha, Alemanha Ocidental e Itália já viviam dias de conflitos em universidades desde o início do ano de 1968. Na Alemanha, por exemplo, uma tentativa de assassinato, em 11 de abril, do líder estudantil Rudi Dutschke aumentou a tensão em Berlim, e a revolta se espalhou por dezenas de cidades.
No entanto, após a explosão do maio francês, os conflitos se intensificaram.
A Universidade de Madri, na Espanha, foi fechada pelo governo no fim do mês de maio. A polícia reprimiu violentamente estudantes e operários.

Na Universidade de Frankfurt (Alemanha), estudantes da esquerda e da direita entraram em choque. Em Milão (Itália), já em junho, estudantes tomaram a sede de um jornal, impedindo sua circulação.

A juventude de países do Leste Europeu como Polônia, Tchecoslováquia e Iugoslávia, por sua vez, protestava pelo afrouxamento do comunismo de influência soviética, para eles, demasiado "rígido e burocrático".
Na Iugoslávia, 20 mil estudantes tentaram ocupar as universidades do país em junho.
Na Polônia, intelectuais e estudantes protestaram, em março, contra a proibição de uma peça de teatro considerada anti-soviética.As greves em massa nas universidades foram reprimidas com violência.
Na Tchecoslováquia, o dirigente comunista Alexandre Dubcek introduziu, em abril, uma tímida liberdade, e falou de um "socialismo humano". Os tanques do Pacto de Varsóvia acabaram, em agosto, com a esperança suscitada pela Primavera de Praga.



Humanae Vitae





Humanae Vitae (em português "Da vida humana") é uma encíclica escrita pelo Papa Paulo VI. Foi publicada a 25 de Julho de 1968. Inclui o subtítulo Sobre a regulação da natalidade, descreve a postura que a Igreja Católica faz em relação ao aborto e outras medidas que se relacionam com a vida sexual humana. Segundo alguns geraria polémica porque o Papa não definiu que a contracepção, exclusivamente por meios naturais, é proibida pela Igreja.

Esta encíclica foi promulgada poucos anos depois da Constituição Pastoral Gaudium et Spes, de 7 de dezembro de 1965, do Concílio Vaticano II e dentro do seu contexto. Nesta Constituição, logo no primeiro capítulo da II parte o Concílio tratou da Promoção da dignidade do matrimônio e da família (ns. 47 a 52) e deixou expresso que se haveria, na regulação da natalidade, de recorrer à castidade conjugal:

Quando se trata, portanto, de conciliar o amor conjugal com a transmissão responsável da vida, a moralidade do comportamento não depende apenas da sinceridade da intenção e da apreciação dos motivos; deve também determinar-se por critérios objectivos, tomados da natureza da pessoa e dos seus actos; critérios que respeitem, num contexto de autêntico amor, o sentido da mútua doação e da procriação humana. Tudo isto só é possível se se cultivar sinceramente a virtude da castidade conjugal. Segundo estes princípios, não é lícito aos filhos da Igreja adoptar, na regulação dos nascimentos, caminhos que o magistério, explicitando a lei divina, reprova.

— Constituição Gaudium et Spes
De alguma forma o tema já vinha sendo tratado pelos pontífices que haviam antecedido a Paulo VI e vinha amadurecendo no âmbito da Igreja à medida que os métodos artificiais de controle da natalidade surgiam. E que variavam desde o aborto até à esterilização definitiva. Na verdade a questão não era nova e o próprio Concílio já havia dado a diretriz inclusive tecendo encômios aos casais que, de modo responsável e prudente, se disponham "com grandeza de ânimo a educar uma prole numerosa".
Sobre esta matéria o Papa Pio XI já havia publicado a encíclica Casti Connubii (1930), já o Papa Pio XII em pronunciamentos de 1944, 1951 e 1958 havia também abordado a matéria e o Papa João XXIII na encíclica Mater et Magistra além do próprio concílio na constituição Gaudium et Spes também, de alguma forma haviam tocado no tema. Mas foi nesta encíclica que a matéria foi tratada de modo orgânico e com método. Este documento é hoje considerado um marco sobre a visão da Família na Doutrina Social da Igreja.

De fato ficou defindo na encíclica e, portanto, no Magistério da Igreja que é proibido recorrer a qualquer meio artificial para evitar a fecundação, sendo, no entanto, possível o uso, por motivos graves e justificados, de meios exclusivamente naturais de regulação da natalidade:
Em conformidade com estes pontos essenciais da visão humana e cristã do matrimônio, devemos, uma vez mais, declarar que é absolutamente de excluir, como via legítima para a regulação dos nascimentos, a interrupção direta do processo generativo já iniciado, e, sobretudo, o aborto querido diretamente e procurado, mesmo por razões terapêuticas.
É de excluir de igual modo, como o Magistério da Igreja repetidamente declarou, a esterilização direta, quer perpétua quer temporária, tanto do homem como da mulher.
É, ainda, de excluir toda a ação que, ou em previsão do ato conjugal, ou durante a sua realização, ou também durante o desenvolvimento das suas conseqüências naturais, se proponha, como fim ou como meio, tornar impossível a procriação. (...)
E afirma, finalmente, que o único meio lícito de regular a natalidade é o recurso ao uso do matrimônio nos períodos infecundos:
Se, portanto, existem motivos sérios para distanciar os nascimentos, que derivem ou das condições físicas ou psicológicas dos cônjuges, ou de circunstâncias exteriores, a Igreja ensina que então é lícito ter em conta os ritmos naturais imanentes às funções geradoras, para usar do matrimônio só nos períodos infecundos e, deste modo, regular a natalidade, sem ofender os princípios morais que acabamos de recordar.
Ficou desta forma fixada nos termos desta encíclica que a única forma lícita de se postergar o nascimento de um filho é o recurso à limitação das relações conjugais aos períodos infecundos, segundo o ciclo de fertilidade da mulher.
Com efeito é afirmado no documento: "A Igreja é coerente consigo própria, quando assim considera lícito o recurso aos períodos infecundos, ao mesmo tempo que condena sempre como ilícito o uso dos meios diretamente contrários à fecundação, mesmo que tal uso seja inspirado em razões que podem aparecer honestas e sérias."

Esse posicionamento comportou uma única exceção: não é considerado ilícito "o recurso aos meios terapêuticos, verdadeiramente necessários para curar doenças do organismo, ainda que daí venha a resultar um impedimento, mesmo previsto, à procriação, desde que tal impedimento não seja, por motivo nenhum, querido diretamente."
Ou seja, é admitido que o tratamento de doenças do organismo possa ter como efeito colateral indesejado o impedimento da procriação, mas este impedimento não pode ser de forma alguma diretamente buscado e nem querido por nenhum motivo.


26 de Junho, a passeata dos 100 mil

















No dia 26 de junho de 1968, cerca de cem mil pessoas ocuparam as ruas do centro do Rio de Janeiro e realizaram o mais importante protesto contra a ditadura militar até então. A manifestação, iniciada a partir de um ato político na Cinelândia, pretendia cobrar uma postura do governo frente aos problemas estudantis e, ao mesmo tempo, refletia o descontentamento crescente com o governo; dela participaram também intelectuais, artistas, padres e grande número de mães.

Desde 67, o movimento estudantil tornou-se a principal forma de oposição ao regime militar. Nos primeiros meses de 68, várias manifestações tinham sido reprimidas com violência. O movimento estudantil manifestava-se não apenas contra a ditadura, mas também à política educacional do governo, que revelava uma tendência à privatização. A política de privatização tinha dois sentidos: era o estabelecimento do ensino pago (principalmente no nível superior) e outro, o direcionamento da formação educacional dos jovens para o atendimento das necessidades econômicas das empresas capitalistas (mão de obra especializada). Essas expectativas correspondiam a forte influência norte-americana exercida através de técnicos da USAID que atuavam junto ao MEC por solicitação do governo brasileiro, gerando uma série de acordos que deveriam orientar a política educacional brasileira. As manifestações estudantis foram os mais expressivos meios de denúncia e reação contra a subordinação brasileira aos objetivos e diretrizes do capitalismo norte-americano.Prisões e arbitrariedade eram as marcas da ação do governo em relação aos protestos dos estudantes, e essa repressão atingiu seu apogeu no final de março com a invasão do restaurante universitário "calabouço", onde foi morto Edson Luís, de 17 anos.

O fato, que comoveu e revoltou todo o país, serviu para acirrar os ânimos e fortalecer a luta pelas liberdades. Durante o velório do estudante, o confronto com policiais ocorreu em várias partes do Rio de Janeiro, sendo que o cortejo fúnebre foi acompanhado por 50 mil pessoas. Nos dias seguintes, manifestações sucediam-se no centro da cidade, com repressão crescente até culminar na missa da Candelária (2 de abril), em que soldados a cavalo investiam contra estudantes, padres, repórteres e populares

Nos outros estados o movimento estudantil também ampliava seu nível de organização e mobilização; em Goiás, a polícia baleou 4 estudantes, matando um deles, Ivo Vieira.Durante todo o ano de 68 as manifestações estudantis ocorreram, assim como intensificou-se a repressão, até a decretação do AI-5, em 13 de dezembro.


BAÚ DA NOTÍCIA: VEJA - NOTÍCIA COMPLETA
9 de outubro de 1968 Destruição e morte por quê?


O ovo veio antes. Estourou na cabeça de um estudante. Depois vieram outras explosões, de coquetéis Molotov, bombas, rojões, mais tiros de revólver, para transformar um pedaço da Rua Maria Antônia, no centro de São Paulo, num campo de batalha. Poderia ter sido mais uma briga, marcando a rivalidade entre os alunos da Universidade Mackenzie e a Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo, uma em frente a outra se encarando com maus olhos há muito tempo. Mas a incrível batalha foi longe demais: há um morto, um moço de vinte anos, muitos feridos, os prédios de duas escolas danificados, vários carros virados e incendiados. No mesmo momento em que os universitários brasileiros reclamam um nível melhor de ensino e pretendem uma participação mais ativa na vida política do País, 3.000 estudantes do Mackenzie e 2.500 estudantes da Faculdade de Filosofia da USP deflagram a sua guerra por causa de um ovo. Para um estudante do Mackenzie, "essa briga prova que não há lugar para duas escolas na Rua Maria Antônia". É muito pouco para tanta violência. Uma coisa é certa: aos dois lados faltou a visão das conseqüências políticas e dos danos materiais que a briga provocaria - e faltaram líderes para deter a briga, antes que chegasse onde chegou. Ao lado do caixão de José Guimarães, o jovem secundarista que tombou na batalha sem glória, Dona Madalena, a mãe desolada, chora, enquanto o irmão mais velho, Ladislau, repete para cinegrafistas e fotógrafos: "Filmem e fotografem à vontade. Talvez tudo isso sirva para alguma coisa, um dia".
Paus e pedras, bombas Molotov, rojões, vidros cheios de ácido sulfúrico que ao estourar queimavam a pele e a carne, tiros de revólver e muitos palavrões voaram durante quatro horas pelos poucos metros que separam as calçadas da Universidade Mackenzie e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. Exatamente às 10 e meia da manhã do dia 2, quarta-feira, começou a briga entre as duas escolas. Porque alguns alunos do Mackenzie atiraram ovos em estudantes que cobravam pedágio na Rua Maria Antônia a fim de recolher dinheiro para o Congresso da ex-UNE e outros movimentos antigovernistas da ação estudantil, a rua em que vivem as duas escolas rapidamente se esvaziou. Formaram-se grupos dos dois lados, dentro do Mackenzie, onde estudam membros do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), Frente Anticomunista (FAC) e Movimento Anticomunista (MAC); dentro da Faculdade de Filosofia da USP, onde fica a sede da ex-União Estadual dos Estudantes. As duas frentes agrediram-se entre discursos inflamados e pausas esparsas. Ao meio-dia a intensidade da batalha aumentou, porque chegaram os alunos dos cursos da tarde. O Mackenzie mantinha uma vantagem tática - os seus prédios ficam em terreno mais elevado e são cercados por um muro alto. A Faculdade da USP está junto à calçada, num prédio cinzento e velho, com a entrada principal ladeada por colunas de estilo grego e duas portas laterais. A fachada não tem mais que 20 metros. Seu único trunfo: uma saída na Rua Dr. Vila Nova, perpendicular à Maria Antônia, bem defronte à Faculdade de Economia, também da USP. Nessa quarta-feira, uma enfermaria improvisada no banheiro da USP atendeu a seis feridos. Dois alunos do Mackenzie também se machucaram. Na rua, os estudantes da USP apupavam os do Mackenzie: "Nazistas, gorilas!" E os mackenzistas revidavam: "Guerrilheiros fajutos!" Às 2 da tarde a reitora do Mackenzie, Esther Figueiredo Ferraz, pediu uma tropa de choque - 30 guardas-civis - para "proteger o patrimônio da escola". Quando a polícia chegou, os estudantes se dispersaram. Houve uma trégua.
TODOS NA DEFESA - Durante a noite as duas escolas discutiram a briga em assembléias. E tanto um grupo como o outro chegou à mesma posição: organizar a defesa para o dia seguinte e só atacar se atacado. A assembléia da USP declarou que não queria lutar contra o Mackenzie, mas contra o CCC. No dia 3, quase às 9 horas da manhã, um grupo de rapazes saiu pelo portão de ferro do Mackenzie, correu até a entrada da Faculdade de Filosofia e arrancou uma faixa suspensa entre as duas colunas. Dizia a faixa: CCC, FAC e MAC = Repressão. E mais abaixo: Filosofia e Mackenzie contra a Ditadura. Os dizeres insinuavam união das duas escolas contra a "ditadura" e as organizações de extrema direita. Ao arrancá-la, os mackenzistas repudiavam a pretendida unidade. E para que isto ficasse bem claro, às 9 e meia tomaram mais duas faixas dos alunos da USP. Foi o fim da trégua. Novamente a pequena rua estremeceu com a explosão de rojões, bombas, tiros, vidraças quebradas por tijolos e barras de ferro. Labaredas de fogo subiam pelas paredes lambendo o rebôco e deixando um rastro negro de fuligem. Guardas civis protegiam o Mackenzie - ainda a pedido da reitora - armados de metralhadoras, fuzis e cassetetes tamanho-família. Luís Travassos e Édson Soares, respectivamente presidente e vice-presidente da ex-UNE, somados a José Dirceu, presidente da ex-UEE, comandavam a resistência da Filosofia.
TODOS NO ATAQUE - Por volta de meio-dia, centenas de curiosos e colegiais que vinham das aulas da manhã aglomeravam-se nos dois extremos da Rua Maria Antônia. Aproveitando a presença dessa platéia, os universitários da USP, com saquinhos de papel na mão, pediam dinheiro "para comprar material de guerra". Grupo de alunas de um colégio próximo subiu num monte de material de construção. Entre elas estava uma menina de quinze anos, com uniforme da quarta série ginasial do colégio "Des Oiseaux" e óculos escuros. Ficou ali quase uma hora, até o instante em que três policiais avançaram sobre um grupo de estudantes que havia lançado pedras contra eles. Um dos policiais puxou o revólver e atirou para o ar. Um aluno da USP jogou-se contra ele, de mãos abertas, forçou o braço do soldado para trás e tentou tomar-lhe o revólver. Dois outros soldados começaram a dar tiros no chão. Um estudante foi ferido na perna: Jorge Antônio Rodrigues, do terceiro ano de Economia. Foi o primeiro choque entre polícia e estudantes na quinta-feira. Um capacete de aço que tombou na luta foi levado como troféu para o interior da Faculdade. Nessa hora, a platéia debandou. A menina de óculos escuros quase levou um tombo. Era a filha do Governador de São Paulo, Roberto de Abreu Sodré. Logo depois, uma sirena gritou na rua. Os estudantes pensavam que a polícia estivesse investindo, mas era uma ambulância que ia buscar o rapaz atingido no rosto por um rojão, aluno do Mackenzie. Nessa escola, alguém ensinava como preparar bombas Molotov (segundo alguns alunos, foram atiradas mais de mil contra os estudantes e o prédio da USP). Nos rojões de vara eram adaptados vidros com gás lacrimogêneo, que iam rebentar no interior das salas da USP. Ácidos de cheiro muito forte e enjoativo eram lançados da mesma maneira. Foram instalados fios elétricos nos portões de ferro e grades do Mackenzie. Quem tocasse ali seria eletrocutado. As vidraças quebradas da USP eram substituídas por tapumes de madeira. Mas a tropa de choque da Faculdade de Filosofia havia acumulado às 14 horas um monte alto de pedras e duzentos rojões. Uma garrafa Molotov estourou sobre os fios de alta tensão que cruzavam a linha de fogo, queimou um deles, e de repente espocaram estalos e faíscas esverdeadas pela rua. Mais correria, mais gritos, mais palavrões. Do Mackenzie saíram bombas de gás lacrimogêneo que detonaram na rua e na entrada da Faculdade de Filosofia. Um edifício em construção, ao lado do Mackenzie, foi ocupado pelos mackenzistas.
DESORDEM, FERIDOS - Boatos e notícias contraditórias circulavam. A polícia invadirá as duas escolas, diziam uns. Outros negavam, mostravam-se mais sabidos: virá o Exército. "Por que seria a polícia? Se ela quisesse, já teria tomado alguma providência. Não iria ficar parada, assistindo de camarote a essa insensatez dos estudantes", dizia um velho, numa esquina. Para o General Sílvio Corrêa de Andrade, chefe do Departamento de Polícia Federal em São Paulo, todas as providências cabiam à polícia do Estado. "O que ocorre na Rua Maria Antônia é desordem, briga, e não manifestação política", dizia ele. Muitos alunos do Mackenzie feriram-se por acaso. Quando corriam por cima dos prédios para escapar das pedradas, sentiam as telhas cederem sob seus pés. Caíam então de uma altura de quase dois metros, desabando no assoalho do último andar. Um quebrou a clavícula, outro o nariz e um terceiro cobriu-se de escoriações. Por volta das 13h30 chegou um carro-tanque com seis bombeiros a pedido dos alunos da USP. Estacionaram na Rua Dr. Vila Nova e começaram o combate aos focos de incêndio que se multiplicavam pelo prédio da Faculdade de Filosofia. José Dirceu soltava frases de efeito: "As violências da direita estão sendo respondidas pela violência organizada do povo e dos estudantes", ou "Vamos esmagar a reação."
DE REPENTE, A MORTE - Perto do edifício em construção, tomado por alunos do Mackenzie, um grupo de secundaristas recolhia pedras para a USP. Na Rua Dr. Vila Nova ecoaram gritos e para lá correram muitos estudantes. Que era? Um aluno da Faculdade de Direito do Mackenzie, João Parisi Filho, halterofilista e desenhista, que teve trabalhos expostos na última Bienal de São Paulo. "Ele é do CCC", comentava-se. Cerca de oitenta estudantes da USP rodearam Parisi berrando: "Lincha! Mata o canalha!" O rapaz tinha um revólver. Tornaram-no. Depois, aos tapas, conduziram Parisi ao prédio da Faculdade de Economia da USP. (Quando à noite esse prédio foi tomado pela Força Pública, o presumível agente do CCC foi detido com os demais estudantes e encaminhado ao DOPS.) O trabalho dos bombeiros não parava. Rojões estouravam intermitentemente na Rua Maria Antônia. Súbito, defronte à Faculdade de Filosofia, um estudante com os braços abertos e quase se ajoelhando na calçada berrou: "Ambulância, ambulância, por favor". E atrás deste vieram mais rapazes carregando um jovem de cabelos pretos que tinha a camisa de linho branco tinta de sangue. Era José Guimarães, aluno do Colégio Marina Cintra, terceira série ginasial, vinte anos. Pintava nas horas vagas. Tinha mãe viúva. Ao passar pela Rua Maria Antônia resolveu ajudar os universitários. Recolhia pedras para a USP. Uma perua dos "Diários Associados" levou-o para o Hospital das Clínicas. Mas José Guimarães morreu no caminho. Na Maria Antônia ele deixou revolta e manchas de sangue. Laudo da autópsia: "A bala é de calibre superior a 38 ou de fuzil. Havia seis ou sete pedaços de chumbo no cérebro. O tiro entrou 1 centímetro acima da orelha direita e saiu à altura da linha mediana da cabeça, atrás, ligeiramente à esquerda. A bala fez um percurso de cima para baixo, em sentido oblíquo". Quem atirou? Ninguém sabe.
A BRIGA PROSSEGUE - Ao saber da morte do estudante secundário, José Dirceu subiu num monte de tijolos, cadeiras, corrimãos de escada e paralelepípedos, que servia de barricada, fez um comício-relâmpago. "Não é mais possível mantermos militarmente a Faculdade. Não nos interessa continuar aqui lutando contra o CCC, a FAC e o MAC, esses ninhos de gorilas. Um colega nosso foi morto. Vamos às ruas denunciar o massacre. A polícia e o exército de Sodré que fiquem defendendo a fina flor dos fascistas. Viva a UNE, abaixo a reação!" Então concebeu uma nova imagem e desfechou: "Jorge, o rapaz morto, é um segundo Édson Luís (o secundarista que morreu no restaurante do Calabouço, na Guanabara). Vamos às ruas!" Com essa oratória José Dirceu conseguiu pôr a maioria dos assistentes em posição de passeata. "Não é Jorge, é Dionísio" cochichou uma estudante à colega. Ninguém sabia direito o nome da vítima. Às 3 e meia uma janela se abriu no prédio da USP, e através dela um aluno gritou: "Estão contentes? Vocês já mataram um". Só assim os mackenzistas souberam da morte de um adversário. Também não entenderam a morte. Uns diziam que tinha sido uma bomba Molotov, outros, que foram tiros da polícia. Quem havia morrido não interessava. Toda a atenção deveria voltar-se para a pontaria das pedradas, que continuaram, mesmo depois de oitocentos estudantes da USP saírem em passeata.
QUEIMAR, QUEBRAR - Os estudantes ganharam a cidade em dez minutos. Arrancaram um pano vermelho da traseira de um carro-guincho e com ele fizeram uma bandeira. Em seguida, cercaram um Aero-Willys com chapa branca da Prefeitura Municipal de Santo André (cidade dos arredores de São Pauto), obrigaram o chofer, preto e gordo, a correr, quebraram todos os vidros do automóvel e amassaram a carroceria. Vinte metros adiante, rodearam um Volkswagen da polícia. Com pedaços de ferro nas mãos, dirigiram-se ao motorista: "Com licença, nós vamos pôr fogo no seu carro". O policial abandonou o automóvel e ficou a distância entre os espectadores. Os estudantes tombaram o carro e atearam fogo.
Depois incendiaram um Aero-Willys da Força Pública de São Paulo. Iluminados pelas chamas que subiam a 20 metros de altura, José Dirceu e Édson Soares fizeram discursos "denunciando o assassinato de um colega e oferecendo solidariedade aos bancários que, em greve, resistem à opressão". Aproveitando o congestionamento do trânsito, as moças da passeata dirigiam-se aos automóveis parados, pedindo dinheiro para "a resistência" e anunciando a morte do companheiro. Minutos depois queimavam mais um Volkswagen da polícia. As chamas ameaçavam um ônibus; os passageiros o abandonaram apavorados, enquanto uma perua Rural-Willys da chefia policial era depredada. Do alto de alguns prédios caíam papéis picados. Na Praça da Sé, ponto central de São Paulo, um Aero-Willys da Polícia Federal foi depredado; os transeuntes gritavam, corriam. Uma senhora desmaiou e foi carregada até a Catedral. A passeata dirigiu-se para o Largo de São Francisco, onde fica a Faculdade de Direito, contra a qual foram lançados paus e pedras. José Dirceu fez novo discurso. De lá os estudantes correram para a próxima Praça das Bandeiras, onde surgiu um caminhão com doze homens da Força Pública. Os estudantes fugiram aos gritos. Seis jornalistas foram presos.
É UMA ESTUPIDEZ - Na Rua Maria Antônia a batalha arrefecia. No prédio da USP sobravam poucos estudantes. Algumas partes do teto ruíam. Às 18h30, Luís Travassos, o presidente da ex-UNE, entrou na Faculdade de Economia dizendo: "É preciso desmobilizar isso. Daqui a pouco não temos mais munição, o prédio pode ser invadido, vai ser um massacre." Os mais atirados queriam ir buscar o corpo de José Guimarães. "E que vamos fazer com o corpo aqui dentro?", perguntou Travassos dando de ombros. Às 20h30, José Dirceu apareceu com uma camisa suja de sangue. Subiu numa janela e, cercado por fotógrafos e cinegrafistas, teve um gesto dramático: "Colegas, esta camisa é do nosso companheiro morto pelas forças da repressão. Vamos todos para a Cidade Universitária. Haverá assembléia." Duzentos e quarenta soldados da Força Pública, cem cavalarianos, dois tanques e cinqüenta cães amestrados começaram a chegar na Rua Maria Antônia e vizinhança. O Mackenzie foi ocupado sem problemas, mas alguns estudantes ainda atiravam bombas Molotov contra o velho prédio da USP e pedras caíam sobre os jornalistas que tentavam se aproximar.
Um repórter da "Tribuna da Imprensa" do Rio de Janeiro foi ferido na cabeça. A Faculdade de Filosofia também foi ocupada. Nela estavam apenas alguns professores e alunos, fechados numa sala para redigir um manifesto sobre os acontecimentos. Os mackenzistas cantavam o Hino Nacional e davam vivas. A reitora Esther Figueiredo Ferraz apertou a mão de alguns funcionários e estudantes. E os estudantes gritaram: Vamos tomar uns chopes para comemorar a vitória". E foram beber.
QUEM VENCEU? - Enquanto o corpo de José Guimarães era velado pela mãe, a irmã e o irmão, sob forte proteção policial, enquanto os alunos da USP discutiam o que fazer no dia seguinte e os mackenzistas bebiam, o diretor em exercício da Faculdade de Filosofia, Professor Eurípedes Simões de Paula, observava que "o prédio da Maria Antônia não tem condições de funcionar até o fim do ano". As aulas serão transferidas para a Cidade Universitária. "Já deveriam ter saído antes", observou Erwin Rosenthal, o diretor que vai à Europa. Com isso, o Mackenzie ganhava o domínio da Rua Maria Antônia. A briga entre as duas escolas é muito antiga e cheia de crises. A principal foi em 1964, quando o CCC sentiu-se fortalecido com a mudança de regime e invadiu a Faculdade de Filosofia quebrando vidraças, móveis e espancando estudantes. Em 1966, quando Luís Travassos foi eleito presidente da ex-UEE, repetiu-se a invasão e foi destruída a urna de votação. Em 1967, quando José Dirceu substituiu Travassos, houve outras brigas. Mas há alunos do Mackenzie contrários a seus colegas da chamada "tropa de choque". E na passeata de uma hora feita na tarde de sexta-feira por cerca de 4 mil pessoas em sinal de protesto pela morte de José Guimarães (um protesto contra quem?), apareceu urna faixa: "O Mackenzie se Une às Outras Escolas e Repudia a Colaboração dos Professores na Fabricação de Armas Assassinas". Nessa passeata, que acabou sendo dissolvida a bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo, José Dirceu declarou que "a UNE e a UEE derrotaram o CCC, o FAC e o MAC em quatro assembléias lá dentro do Mackenzie". A União das Mães de São Paulo, que apoiou a passeata, pediu aos estudantes que se manifestassem pacificamente. "Violência gera violência", disse a oradora da União. Os estudantes não gostaram da advertência. Um coro interrompeu o discurso: "Povo armado derruba a ditadura", gritaram. A senhora não perdeu a coragem. Uma mocinha deu-lhe apoio: "Muito bem". Mas o estímulo caiu no silêncio. A União das Mães tomou uma decisão na hora: "Retiramos nosso apoio se vocês não fizerem essa passeata pacificamente". Mas não houve paz. Alguns estudantes quebraram vidraças do First National City Bank, outros viraram e queimaram um carro. Às 20 horas - duas horas após o desbaratamento da manifestação -, uma perua da Força Pública foi atacada num ponto distante do roteiro da passeata. Luís Travassos e José Dirceu estavam cansados e unidos. A camisa manchada com o sangue de José Guimarães foi carregada como um estandarte. Ninguém - exceto parentes e policiais - pôde ir ao enterro do moço assassinado numa batalha absurda. O sepultamento marcado para as 16 horas de sexta-feira foi às 13 horas, no Cemitério do Araçá. Os moços da ex-UNE querem fazer dessa morte um caso político de repercussão nacional e anunciam mais passeatas. A que pode servir tudo isso? O irmão do morto diz que talvez sirva a alguma coisa, um dia. Que coisa?




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16 de outubro de 1968, O congresso interrompido









Os rapazes e moças enrolados em cobertores coloridos, no frio do começo da tarde de sábado passado, não pareciam os perigosos líderes estudantis do Brasil inteiro, presos durante o 30º Congresso da ex-UNE, em Ibiúna, cidade de 5 mil habitantes a 70 quilômetros de São Paulo. Eram 920 pessoas, entre estudantes e jornalistas, cansados e sujos de lama junto a um galpão da Cooperativa Agrícola de Cotia, para onde tinham sido levados por centenas de soldados da Força Pública estadual depois de terem sido retirados na manhã de sábado do sítio no bairro de São Sebastião, a 14 quilômetros de Ibiúna, onde estava sendo realizado o Congresso. Iam sendo postos em nove ônibus, um microônibus, cinco caminhões, duas Kombis e uma Rural Willys. Um soldado pegou pelo braço um jovem magro, pálido, de olheiras fundas e óculos escuros, enrolado num cobertor de cor amarela. O rapaz, com olhar tenso de raiva contida, estava subindo num dos caminhões de presos. O soldado o reconheceu: era Luís Travassos, presidente da ex-UNE. Foi levado até o coronel Ivo Barsotti, comandante da operação anti-Congresso. O Coronel apontou novo rumo para Travassos: a Rural, em que já estava José Dirceu, ex-presidente da ex-UEE paulista. Dirceu - cabelo comprido, barba por fazer, olhar cansado -, disse a seu velho rival na disputa pela liderança na ex-UNE: "Dentro de um mês fazemos um novo Congresso". No fim da tarde úmida e chuvosa de São Paulo, horas depois, a única tentativa de resistência à prisão: de um ônibus parado diante do QG da Força Pública, na Avenida Tiradentes, o ex-presidente da ex-UME, Vladímir Palmeira, foge pela porta de emergência e corre descalço pela rua. Os soldados da Força logo o cercam; na luta, Vladimir perde a camisa. Sem camisa, Vladimir junta-se na prisão a Travassos e Dirceu, enrolados em cobertores. Os três líderes estudantis estavam com prisão preventiva decretada, finalmente executada depois de muitas vezes terem enganado a polícia.
O PREÇO DE UMA DÍVIDA - Na quinta-feira, o sitiante Miguel Góis, de Ibiúna, tinha levado ao delegado Otávio Camargo uma grave queixa: havia ido ao sítio de seu amigo Domingos Simões cobrar uma dívida por fornecimento de milho, mas dois homens armados de revólveres o haviam impedido de passar a cancela. O delegado, de 35 anos, chapéu sempre enterrado na cabeça, foi juntando os fatos: no bairro do Curral, a 6 quilômetros de Ibiúna - cidadezinha que se orgulha de constar na lista oficial de cidades turísticas de São Paulo e produz tomates, batatas e alcachofras -, sitiantes japoneses tinham visto "muita gente jovem com jeito de cidade". A 2 quilômetros de Ibiúna, na estrada que a liga a São Paulo, um amigo do delegado, o dentista Francisco Soares havia encontrado espalhados, junto a árvores, folhetos sobre o movimento estudantil. O delegado Otávio Camargo tirou conclusões: o Congresso da ex-UNE estava sendo realizado em Ibiúna. Avisou o DOPS e, na noite de sexta para sábado, três destacamentos da Força Pública - dois dirigidos pelos delegados do DOPS paulista Paulo Buonchristiano e Orlando Rosante e o outro pelo Coronel Barsotti, comandante do 7º Batalhão da Força, de Sorocaba - cercaram as três únicas vias de acesso ao sítio de Domingos Simões. Um estudante, de sentinela, deu tiros para o ar ao ver os soldados, que dispararam metralhadoras também para o ar. Foi só: logo depois, os congressistas se renderam sem luta e a Força Pública agiu sem violência. No sítio os soldados acharam uma Lugger, duas Berettas e uma carabina, além das 920 pessoas.
O SÍTIO E A POLÍCIA - Domingos Simões, o dono do sítio do Congresso, 52 anos, alto e louro, conseguiu escapar sem pagar a dívida do milho nem ser preso por subversão. É corretor de imóveis; seu irmão Jerônimo Simões é sócio do ex-Governador cassado Adhemar de Barros numa fábrica de aviões. Em sua casa - três cômodos apertados ao fundo de um corredor muito sujo, ao lado de um sobrado em demolição no centro de São Paulo -, a mulher de Domingos, Neusa, nascida em Ibiúna, morena de dezenove anos, afirma: "Meu cunhado Benônimo (é assim que ela o chama) já foi comandante da Guarda Civil". Ela não sabe onde está seu marido; só sabe que no início da semana Domingos foi visitado por cinco estudantes e saiu quinta-feira dizendo que ia para um piquenique.
CHIQUEIRO E BARRACAS - O delegado Otávio Camargo, orgulhoso de seu feito - os dois mais recentes congressos da ex-UNE, em Belo Horizonte e em Valinhos, São Paulo, foram realizados sem que a polícia soubesse -, diz o que viu no sítio: "Moços e moças amontoados na casa, dormindo em camas de lona ou no chão. Como não cabiam todos na casa, muitos foram aproveitar a cobertura dos currais desocupados. Ficava porco num chiqueiro, gente no outro". Conta também o delegado que durante o início da semana os congressistas se transferiram de um sítio de Domingos Simões, no bairro do Curral, para outro sítio, também de Domingos Simões, no bairro de São Sebastião. Junto ao galpão da Cooperativa de Cotia, vendo o embarque dos presos, o Coronel Ivo Barsotti - cansado de uma noite em claro - ouvia a queixa trazida por um tenente: "Onde vamos pôr os soldados que estão aí na rua? Os caminhões estão lotados com estudantes". O Coronel respondeu secamente: "Ora, não tem lugar? Então vai tudo a pé daqui até São Paulo". Mas deu-se um jeito: apertando, empurrando, soldados e estudantes vieram juntos para São Paulo. Pelos 70 quilômetros de estrada, o comboio parou algumas vezes para não dispersar. Caboclos perguntavam: "É romaria, é excursão, é revolução?", aos estudantes que pediam pão e água.
UM ÔNIBUS DE MOÇAS - Os estudantes foram embarcados nos ônibus e caminhões em fila indiana. Num dos ônibus estavam oitenta moças. Acomodaram-se de qualquer maneira: três em cada banco, no chão, sobre o motor, algumas de pé. Desconfiadas e caladas, procuravam controlar-se, evitavam dar informações sobre o Congresso. Disseram que não houve resistência nem nervosismo quando a polícia chegou. Disseram também que a sessão de encerramento do Congresso não chegou a se instalar; estava marcada para as 7 da manhã de sábado. Durante a viagem, descontraíram-se um pouco. Conversaram com o soldado que as vigiava, na porta do ônibus; pediram para ver uma bala de fuzil e a baioneta (o soldado mostrou). Na chegada ao QG da Força Pública, tiveram sua única reação mais espontânea: foi quando Vladimir Palmeira tentou fugir. Segundo as moças, os policiais não foram violentos Segundo um assessor do Governador Sodré, todos os policiais já estavam preparados desde sexta-feira. O mesmo assessor informou que o Governador ficou contente com a prisão. O maior motivo do contentamento do Governador: metade dos presos não são estudantes. De qualquer modo, todos os 920 estão enquadrados na Lei de Segurança Nacional.
NOVE HORAS DEPOIS - Só às 5 horas da tarde, estudantes de várias faculdades reunidos no CRUSP - Conjunto Residencial da USP - tiveram a confirmação do fim do Congresso. Discutiam muito, reuniram-se improvisadamente, exigiam dos oradores palavras concretas, gritavam que já estão cansados de teorias e decisões entre líderes. Muitos dos oradores procuravam aliviar a tensão dizendo que devia ser uma onda de boatos espalhada pela comissão de segurança do Congresso ou pela polícia. A última oradora foi Catarina Meloni, líder travassista em São Paulo. Ela e Bernardino Figueiredo - presidente do Grêmio Faculdade de Filosofia da USP - são os únicos líderes estudantis em liberdade; estavam presos até a semana passada, não tiveram tempo de participar do Congresso. Catarina convocou os estudantes para movimentações a partir de segunda-feira. Entre os estudantes, já no fim da tarde, esperava-se uma repetição do congresso da ex-UEE paulista em 1966, quando todos foram presos, continuaram as discussões dentro da prisão, escolheram as chapas e Luís Travassos foi então praticamente eleito na cadeia.
Até onde chegam os perigosos caminhos dessa União
Um casarão cinzento, antigo clube de alemães, de arquitetura antiga e fachada larga, que no primeiro dia da Revolução estava em chamas, na Praia do Flamengo, Rio de Janeiro - eis a UNE. "A UNE somos nós", uma palavra de ordem gritada por estudantes nas ruas de São Paulo e Rio, nas passeatas da semana passada, ponto alto de um processo que fez do movimento estudantil uma forte oposição ao Governo - eis a ex-UNE até sábado passado. Dona de muitas vidas, a ex-UNE, com a prisão de seus líderes durante a realização do 30º Congresso, sofreu sua maior derrota desde que se transformou num movimento contra o regime.
CHAMAS QUE NÃO MATAM - O casarão cinzento da Praia do Flamengo ruiu em chamas no mesmo dia da queda do Governo Goulart e marcou o fim de um período de vida da ex-UNE. Ao ser fechada por decreto mais tarde conhecido como Lei Suplicy, a UNE se modificou e abandonou a política vinculada ao Ministério da Educação. O Ministro que assinou a Lei 4.464, de 9 de novembro de 1964, Professor Flávio Suplicy de Lacerda, hoje reitor da Universidade do Paraná, lançou na época um desafio: "A UNE poderá continuar existindo, mas como organização civil. Se sobreviver nessas condições, terá dado prova de capacidade e autenticidade de representação, pois sobreviverá sem o estímulo de gordas e fáceis dotações federais". Essa prova de capacidade, a ex-UNE conseguiu dar. Sobreviveu sem as verbas fáceis do tempo de Goulart, quando havia deixado de ser um órgão de representação estudantil para andar ao lado do Governo, como se fosse parte integrante dele. Em todas as manifestações governistas, a presença da UNE era obrigatória, seu representante sentava à mesa de honra e discursava apoiando Goulart. José Serra, um estudante paulista, último presidente da UNE legal, esteve no comício do dia 13 de maio de 1964, na Central do Brasil, no Rio, e na assembléia dos sargentos, no dia 30, no Automóvel Clube da Guanabara. Foram essas posições que causaram dois prejuízos fundamentais à UNE: 1 - ao ser encampada pelo Governo Goulart, a UNE perdeu suas bases, os estudantes se afastaram dela, pois assumira a posição de um partido político e não era mais uma entidade de classe estudantil; 2 - a revolução que depôs Goulart não podia perdoar quem se sentava à sua mesa.
SEM PRESENTE NEM PASSADO - A Lei Suplicy conseguiu atingir a UNE no seu aspecto legal. Ela proibia aos órgãos de representação estudantil "qualquer manifestação ou propaganda de caráter político partidário" e criava um Diretório Nacional dos Estudantes para substituir a ex-UNE. Menos de três anos depois, em fevereiro de 1967, a Lei Suplicy deixava de existir, no trecho que se refere à UNE, substituído pelo Decreto-Lei 228, assinado pelo então Ministro Moniz Aragão. E a ex-UNE, liquidada legalmente, ficava em definitivo sem substituto. E também não voltava ao seu passado, aos tempos em que sua sede eram as mesas do Café Lamas, no Largo do Machado, no Rio, e seus objetivos, bem mais liberais do que hoje.
Na época da sua fundação e durante muitos anos, a União Nacional dos Estudantes foi principalmente uma entidade nacionalista: saiu às ruas pela primeira vez exigindo que o Brasil entrasse na guerra contra o Eixo nazifascista; combateu a ditadura de Vargas; ajudou a construir os grandes partidos liberais, como a ex-UDN. Carlos Lacerda, Alceu Amoroso Lima, Afonso Arinos, Milton Campos, Pedro Aleixo, Sobral Pinto, todos no Rio, Jânio Quadros e Roberto de Abreu Sodré, em São Paulo, foram nomes que estiveram ligados a campanhas estudantis como a anistia para presos políticos, a do monopólio estatal do petróleo, contra a Lei de Segurança Nacional de 1950 e pela criação do restaurante universitário. A frase "O petróleo é nosso", inspirada pelos estudantes da UNE, tornou-se um símbolo nacional. Mesmo em 1947, quando protestou publicamente contra o fechamento do Partido Comunista Brasileiro, a UNE não era de esquerda e não fazia nada mais do que continuar com uma política independente junto a um Governo que ela própria ajudara a criar.
MINORIA PRIVILEGIADA - Os estudantes universitários no Brasil são 213 mil, o que vem a ser 2,1 por mil habitantes do País. Os estudantes são realmente uma minoria privilegiada dentro dos 45,68% da população brasileira entre cinco e 24 anos (segundo o censo de 1960). Menos de 2% da nossa população entre dezenove e 25 anos está na Universidade, contra índices como este: 16% da juventude francesa e 46% da juventude americana. São uma minoria privilegiada e a educação no Brasil é um grande desafio. E o desafio começa no ensino primário, onde de 60% a 70% dos matriculados no primeiro ano são reprovados ou abandonam os estudos. Em 1955 houve 3.157.000 matrículas no primário - apenas 123.647 estudantes concluíram o curso médio, ao final de 1965.
Para se ter um retrato de quem é o estudante universitário no Brasil, foi feito um trabalho pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, em 1965, no qual se verifica que os pais dos universitários têm, na maioria, atividades remuneradas de nível alto e médio; que a maioria tem irmãos que estudaram; que a maioria das mães não trabalha; que em grande número fizeram o curso médio em escolas pagas; que apenas 8,52% deles têm pais operários; que a idade média dos primeiranistas é 22,11 anos (a idade média ideal é considerada entre dezessete e dezenove anos); que 44,12% deles trabalham; que 62,49% têm ajuda financeira da família; e que 27,75% das famílias têm carro.
ILEGALIDADE QUE MUDA - "Os partidos" - na análise de um estudante - "antes de 1964 não tinham nenhuma organização, nenhum objetivo definido e nenhuma solução clara para o problema brasileiro: desmoronaram. E o fato é que o movimento estudantil se tornou a vanguarda de todo movimento progressista no Brasil. Nós temos acesso à cultura e ainda por cima pertencemos à classe dominante. Se um estudante é preso, o País inteiro fala dele através de jornais e de um intercâmbio de protestos interfaculdades. Quem não é estudante pode ser preso e espancado que ninguém fala dele." A ex-UNE na ilegalidade passou dois anos mergulhada em auto-crítica para chegar a conclusões bem parecidas. Também nesse tempo procurou reorganizar-se sem as verbas de que falava o Ministro Flávio Suplicy de Laceda e sem o engajamento político com qualquer agremiação partidária.
"Antes de 1964" - dizia José Roberto Arantes, ex-vice presidente da UNE -, "havia um certo sentido na participação nos órgãos de direção. A posição era reformista: tentava-se consertar a sociedade brasileira; hoje os estudantes querem transformar a sociedade brasileira". As agitações estudantis só voltaram ao cenário brasileiro, modificadas em formas e objetivos, depois de 1966. E foram num crescendo de organização até o 29º Congresso da ex-UNE, realizado também em São Paulo, num convento próximo à cidade de Valinhos.
Nesse Congresso a autocrítica dos líde. res da ex-UNE foi levada à massa dos estudantes. Na sua carta política, a entidade comentava: "Temos uma longa luta pela frente e só agora o movimento estudantil começa a se libertar de fato dos seus vícios de origem, da ideologia das classes dominantes que o alimentou. Antes de abril, o movimento estudantil esteve preso a uma das facções dominantes que disputava o poder. Seguindo as correntes reformistas, a UNE depositava suas esperanças de transformação social do País nas mãos da burguesia nacional progressista. Todas as grandes mobilizações dos estudantes foram canalizadas para o apoio a tais setores progressistas. Por mais violentas que fossem as palavras dos seus dirigentes, o movimento estudantil, na prática, deu mais importância aos contatos de cúpula do que à aproximação direta com as áreas populares".
UMA OPOSIÇÃO NAS RUAS - Essa mudança total de política da ex-UNE se refletiu em tudo que aconteceu de 1967 para cá. É uma ex-UNE diferente, essa que teve o seu 30º Congresso interrompido e seus líderes presos. Organizou-se de faculdade em faculdade, para colocar sempre contingentes pequenos, ou grandes, nas ruas, protestando contra o Governo. Denunciou o diálogo a certa altura proposto como mediação entre o movimento estudantil e o Governo Costa e Silva. Só concordaria em realizá-lo se os estudantes presos fossem soltos e encerrada tóda repressão. Mas sabia evidentemente que isso era impossível.
Nitidamente de esquerda, sem entretanto estar filiada a nenhum grupo e não aceitando a tutela de nenhum partido, a ex-UNE esteve sistematicamente contra o Governo e conseguiu capitalizar graves episódios, como a morte do estudante Edson Luís, em março, na Guanabara, e a invasão da Universidade de Brasília, em agosto. A ex-UNE engloba diversas tendências, que vão da esquerda cristã (a Ação Popular, que chegou a dominá-la, logo depois da Revolução) aos grupos marxistas-leninistas, maoístas, pró-castristas e, recentemente, os althusserianos, que defendem as idéias do filósofo frances Louis Althusser (que representa a revisão do marxismo). É impossível hoje definir uma tendência homogênea dentro da ex-UNE. O velho Partido Comunista Brasileiro, que defende a revolução por meios pacíficos, hoje se confunde com as várias facções marxistas que surgiram depois da Revolução, e sua expressão no meio estudantil é quase nula. Novas correntes se formaram, chamadas dissidências, e na própria organização da esquerda católica também se verificaram cisões.
O RETRATO DA OPOSIÇÃO - O movimento estudantil despertou novamente a atenção do Governo depois da morte do estudante Edson Luís, na Guanabara. Não só pela morte do secundarista, mas também porque os estudantes levaram para as ruas as deficiências do ensino superior no Brasil.
O Governo Costa e Silva preocupou-se com o problema estudantil quando, em dezembro do ano passado, pelo Decreto 62.024, criou a Comissão Especial para o Ensino Superior, dirigida pelo então Coronel Carlos Meira Matos. Durante 89 dias essa Comissão estudou e recolheu todos os dados do problema universitário brasileiro. A Comissão ficou mais famosa quando o hoje General Meira Matos entregou ao Presidente Costa e Silva e ao Ministro da Educação Tarso Dutra um relatório de trezentas páginas com a análise do problema: o "Relatório Meira Matos".
Em sintese, o relatório alinhava como pontos críticos: falta de liderança estudantil democrática, consciente de seu papel e pronta a defendê-lo; ausência de fiscalização de verbas e de esforços na obtenção de novas fontes de financiamento; má remuneração dos professores (o que provoca várias deturpações no exercício profissional); ausência de orientação para atender à maior demanda anual de vagas em todos os níveis de ensino; implantação desordenada da reforma universitária, sem objetividade e sem visão na redução dos currículos.
Mesmo apontando todas estas falhas, e mesmo com a criação de um grupo de trabalho que elaborou uma reforma universitária, o Governo não se livrou da oposição do movimento estudantil.
MAIS UMA VIDA? - Embora sofrendo algumas baixas temporárias - como a prisão de Vladimir Palmeira no início de agosto passado -, no todo, a ex-UNE continuou em ascensão. E a repressão às manifestações estudantis emprestou involuntariamente muita divulgação ao movimento. O próprio Vladimir Palmeira, que há dois anos não passava de um líder menor, se tornou uma figura de projeção nacional. Outros líderes também se projetaram e todos, com as suas teses e divergências, foram para o 30º Congresso.
A ex-UNE, que já estava numa encruzilhada de idéias quanto ao seu verdadeiro papel, hoje tem outros problemas. Ela se debatia em torno de duas teses principais: deveria o movimento estudantil voltar-se para os problemas da Universidade e, através desses problemas, denunciar o sistema e as estruturas, ou deveria acompanhar uma política de denúncia constante a todos os atos atentatórios dos "inimigos do povo, da ditadura e do imperialismo"? A primeira posição, defendida por Vladimir Palmeira e por seu candidato à presidência, José Dirceu, era chamada de "luta reivindicatória". A segunda, de Luís Travassos, o então presidente da ex-UNE, e de seu candidato, Jean Marc Van der Weig, era chamada de "luta política".
Hoje, com seus líderes presos, a ex-UNE passa a ser "ex" de uma vez por todas?


BOB KENNEDY ASSASSINADO


Robert Francis Kennedy (20 de novembro de 19256 de junho de 1968), apelidado de Bob ou Bobby, foi um dos dois irmãos mais novos do presidente dos Estados Unidos da América, John F. Kennedy, de quem foi amigo e conselheiro.
Serviu como Procurador Geral da união de 1961 até 1964, tendo sido um dos primeiros a combater a Máfia. Além da crise dos mísseis cubanos, que acompanhou ativamente, teve grande participação no movimento pelos direitos civis dos afro-americanos. Era católico como o irmão. Depois do assassinato de John em novembro de 1963, trabalhou ainda com seu sucessor até setembro de 1964, quando se elegeu senador por Nova Iorque. Foi contra a guerra do Vietnam.
No começo de 1968 anunciou sua campanha para ser indicado candidato à presidência pelo partido Democrata, mas foi assassinado (durante a campanha) após vencer a eleição primária da Califórnia.

Um comentário:

Unknown disse...

O povo da Tchecoeslovaquia em 1968 lutou contra a barbárie da criminosa ditadura comunista! Queria eleições livres e não "reformar o comunismo"! Reformar o comunismo é perfumar merda!
E em 1989, a satânica exploração do capital-comunismo multinacional foi destruída pelos escravos anticomunistas!Os bundas moles comunistas foram eliminados em um dia!