sábado, 11 de outubro de 2008

Crise: o derretimento do mercado financeiro

A queda da Bovespa e seu impacto

A Bolsa de Valores de São Paulo chegou a cair 15% nesta segunda-feira. A negociação de ações foi parada por duas vezes ao longo do dia. A queda das ações no Brasil acompanhou o movimento dos mercados internacionais, que caíram fortemente tanto nos Estados Unidos como na Europa. Mas, no final do dia, o mercado se recuperou um pouco e as perdas ficaram em 5,43%.
A seguir, a BBC Brasil reuniu algumas perguntas e repostas sobre o que está ocorrendo no mercado de ações no Brasil.
Por que a bolsa brasileira chegou a cair tanto?
O principal motivo apontado pela maioria dos especialistas para a queda forte das ações no Brasil se resume a uma palavra: pânico. De acordo com os analistas, o movimento do mercado no Brasil não pode ser explicado unicamente pela lógica dos investimentos. “Estamos vendo reações muito emocionais dos investidores”, afirma Antonio Castro, presidente da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca). O pânico teria sido motivado por um conjunto de fatores: a percepção de que a crise está atingindo mais fortemente a Europa, a dúvida sobre a eficácia do pacote de ajuda americano e o aumento da aversão ao risco de maneira generalizada. Em tese, esses fatores levaram muitos investidores a vender seus papéis e derrubam os preços das ações.
Na opinião dos analistas, o fato das ações terem recuperado parte de seu valor rapidamente no final do dia seria uma demonstração da falta de racionalidade na venda de várias ações.
Por que a Bovespa se mostra mais volátil do que a maioria das grandes bolsas?
Um estudo do presidente da Abrasca mostra que, nas últimas décadas, a variação do principal índice da Bolsa de Nova York – o Dow Jones – esteve sempre entre uma banda anual máxima em torno de 30% para cima ou para baixo. No Brasil, essa banda de variação para o Ibovespa tem sido historicamente muito maior. Em 1990, por exemplo, a queda na bolsa foi de mais de 70%, sendo que em 1991 a recuperação foi de mais de 200%. Alguns motivos explicam essas variações tão grandes. Uma é que apenas algumas empresas representam a maioria das negociações na Bovespa. Apenas a Petrobras e a Vale do Rio Doce representam em média 40% dos negócios diários. Isso significa que se essas empresas caem de valor rapidamente, elas derrubam o índice geral. Além disso, cerca de 50% das empresas que atuam na bolsa brasileira são companhias que vendem commodities, principalmente minerais e grãos. O valor dessas empresas tende a variar junto com o valor dos produtos que elas vendem, o que aumenta ainda mais a variação de preço das ações. Outro motivo é a alta participação de estrangeiros como investidores – elas são cerca de 70%. Esses investidores tendem a sair da bolsa brasileira quando temem que a situação pode se deteriorar para colocar seu dinheiro em investimentos mais seguros.
Quanto a Bovespa já caiu?
Desde o começo do ano, o principal índice da bolsa já caiu em mais de 30%. Esse número, porém, tem variado muito ao longo do ano. Desde o pico do ano, que ocorreu em maio, a queda já é de mais de 40%.
Até onde a bolsa pode cair?
Os especialistas dizem que é muito difícil fazer qualquer aposta, porque a situação atual da economia é nova. Segundo Maurício Carvalho, professor de finanças do Ibmec São Paulo, um estudo recente produzido por ele mostra que historicamente quedas de 45% têm se mostrado com um piso (apesar de existirem algumas variações fora da regra). Isso significaria que a barreira dos 40 mil pontos seria um limite para este ano. O pico deste ano ocorreu quando a bolsa chegou aos 73 mil pontos. Na segunda-feira, o índice da bolsa chegou a ficar em 37 mil pontos, para depois se recuperar. “O problema é que essas conclusões são tiradas olhando para o passado e não sabemos se elas vão funcionar na situação atual”, afirma Carvalho.
Como a queda afeta a economia em geral?
A bolsa brasileira ainda é relativamente pequena em importância para a economia brasileira quando comparada às bolsas nos Estados Unidos ou na Europa. A Bovespa conta com cerca de 500 mil investidores como pessoas físicas e 397 companhias listadas, contra 2.365 na Bolsa de Valores de Nova York, por exemplo. Apesar disso, as quedas afetam diretamente todos os investidores que têm alguma participação em fundos de investimentos ou fundos de pensão, o que é uma base maior dos que os investidores diretos. Além disso, em períodos de queda, a bolsa deixa de ser uma fonte de financiamento para as companhias, o que pode atrapalhar planos de investimento.

As principais bolsas de valores da Europa e da Ásia voltaram a registrar nesta sexta-feira quedas acentuadas.
Em Londres, o Índice FTSE encerrou o dia em -8,85%; em Paris, o Cac ficou em -7,73 e, em Frankfurt, o Dax fechou com um recuo de 7,01%. Mais cedo, a bolsa de Tóquio fechou com o índice Nikkei em -9,62%, e o índice Hang Seng, da bolsa de Hong Kong, teve perdas de 7,19%.
Estas quedas ocorreram apesar de uma ação coordenada global dos Bancos Centrais, de corte nas taxas de juros, no começo da semana. A seguir a BBC Brasil responde a uma série de perguntas para explicar a razão destas quedas nos mercados.
Por que as bolsas registraram estas quedas?
De certa forma, é como se as bolsas estivessem brincando de “siga o líder”, de olho no mercado americano.O índice Dow Jones de Nova York fechou com uma queda de 7,3% na quinta-feira. E, o mais preocupante, o índice caiu 20,9% em sete dias. A tendência passou para a Ásia, onde o índice Nikkei em Tóquio fechou em queda de quase 10% e o Hang Seng, de Hong Kong, caiu 7,2%. E o mesmo aconteceu com as ações na Europa.
O que preocupa os investidores?
Nas últimas semanas, em algumas ocasiões, foram vistos sinais de otimismo nos mercados, especialmente quando o pacote de resgate do governo americano, de US$ 700 bilhões, foi aprovado nos Estados Unidos. Mas momentos de pessimismo têm sido mais comuns. Analistas apontam uma série de fatores para explicar isso. Um deles é que persiste o problema de liquidez - os bancos ainda estariam com muita aversão ao risco e não começaram a emprestar dinheiro uns para os outros. "Apesar dos grandes esforços dos Bancos Centrais do mundo todo, ainda não vimos nenhuma movimentação de empréstimos entre os bancos, e isto está causando a maior preocupação no momento", disse o corretor de mercados da CMC Matt Buckland.
Os investidores também estariam preocupados com a própria eficiência do pacote aprovado dos Estados Unidos e temendo que a crise seja mais profunda do que se previa.
Os mercados poderão cair mais?
Descobrir quando os mercados atingiram o fundo do poço é um processo arriscado e complicado.
Muitos corretores acreditam na idéia de “capitulação” ou “rendição” do mercado. Isso aconteceria quando os investidores tentarem sair do mercado a qualquer preço, após perderem toda a esperança de fazer algum dinheiro com suas ações.
Esta rendição dos mercados seria marcada por vendas precipitadas e um volume alto de transações.Isso continuaria até o ponto em que o último investidor, desesperado para se livrar de suas ações e migrar para investimentos menos arriscados, tenha vendido tudo.
Uma vez que haja uma crença de que os mercados chegaram ao fundo, os que procuram um bom negócio entrariam em ação e o mercado se recuperaria.
Mas é possível que as bolsas já tenham chegado ao fundo do poço?
É muito difícil afirmar isto. Algumas pessoas avaliam que já se chegou neste ponto, no começo da semana. Alguns acham que os mercados chegaram ao seu ponto mais baixo na semana passada.
E também existem aqueles que afirmam que a capitulação foi alcançada no dia 15 de setembro, quando o índice Dow Jones caiu 504 pontos em um único dia. "Nós tivemos o estágio da capitulação, onde as pessoas estão tendo a combinação de um sistema bancário em crise e a economia global que está desacelerando de forma dramática", afirmou Justin Urquhart-Stewart, da empresa de gerenciamento de Investimentos Seven.

Bush diz que crise precisa de 'resposta global séria'
Em um breve discurso realizado na manhã deste sábado em Washington após uma reunião com os ministros das Finanças dos países do G7 (o grupo dos sete países mais ricos do mundo), o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, disse que todos concordam que é necessária uma "resposta global séria" à crise financeira."Todos nós reconhecemos que esta é uma séria crise global e por isso precisa de uma resposta global séria para o bem de nossas populações", afirmou Bush. O presidente acrescentou que todos estão determinados a "continuar os grandes esforços para levar suas economias de volta ao caminho da estabilidade e do crescimento de longo prazo". De acordo com Bush, os Estados Unidos têm um papel especial a desempenhar na liderança da resposta à crise, por isso ele convocou a reunião deste sábado com os ministros das finanças na Casa Branca. "E é por isso que o nosso governo vai continuar utilizando todos os instrumentos à disposição para resolver a crise", explicou o presidente americano.
Intervenção americana
A reunião com Bush vem após um encontro nesta sexta-feira dos ministros das Finanças do G7 com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson. Após a reunião, Paulson disse que que o governo americano irá comprar ações de bancos.''Estamos desenvolvendo estratégias para usar a autoridade de comprar e garantir bens hipotecários e de comprar ações em instituições financeiras, consideradas necessárias para promover a estabilidade do mercado financeiro'', afirmou Paulson. Muitos analistas já diziam que a guinada intervencionista do governo dos Estados Unidos representaria o fim do modelo americano de capitalismo, marcado pela não-intervenção estatal e pela plena liberdade do mercado. A ação anunciada nesta sexta-feira por Paulson leva ainda mais longe a intervenção do Estado americano no sistema financeiro do país. É a primeira vez que o governo dos Estados Unidos anuncia uma medida dessa natureza desde a Grande Depressão.
Papel do G7
Além de anunciar um aprofundamento da recente guinada intervencionista americana, Paulson frisou também o papel dos demais países para conter a atual crise. O secretário do Tesouro afirmou ainda que o G7 está comprometido a encontrar soluções coletivas para garantir a estabilidade financeira global e resgatar a saúde da economia mundial. ''Os eventos recentes mostraram que a turbulência dos mercados é um evento global'', afirmou Paulson.
O secretário do Tesouro acrescentou que os países do G7 estão buscando um plano internacional e abrangente de regulamentação do sistema financeiro.
Plano de ação do G7
O G7 lançou nesta sexta um comunicado com cinco pontos de ação.
Entre eles o de ''usar todas as ferramentas possíveis para apoiar sistematicamente importantes instituições financeiras e impedir suas falências'' e ''tomar todos os passos para garantir que bancos e outras instituições financeiras tenham pleno acesso à liquidez e ao financiamento''.
O grupo dos países ricos também destacou a necessidade de ''garantir que os bancos de nações diversas possam, quando necessário, levantar capital de fontes públicas, bem como privadas''.
O quarto ponto de ação foi o de ''assegurar que as garantias dos depósitos sejam robustas e consistentes". O último ponto foi de se comprometer ''a tomar medidas, quando apropriado, para reativar os mercados secundários de hipotecas, e outros ativos titularizados''.

EUA confirmam reunião do G20 sobre crise financeira
O governo dos Estados Unidos confirmou nesta quarta-feira a realização no sábado de uma reunião do G20, grupo atualmente presidido pelo Brasil, sobre a crise econômica mundial.
O G20 reúne representantes das nações mais ricas do mundo e das principais economias emergentes: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coréia do Sul, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Rússia, Turquia e União Européia. ''Em consulta com o Brasil, o presidente do G20, estou pedindo uma reunião especial do G20 que incluirá altos oficiais de Finanças, presidentes de bancos centrais e reguladores das principais economias emergentes para coordenar maneiras de amenizarmos os efeitos da turbulência global e da desaceleração econômica em todos os nossos países'', afirmou o secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, em uma coletiva.
A reunião improvisada será realizada em Washington, na sede do Fundo Monetário Internacional (FMI), que realiza, nesta semana, o seu evento semestral na capital americana.
Telefonemas
O encontro acabou sendo fechado após conversas telefônicas entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o líder americano, George W. Bush, e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, nesta quarta-feira. Bush também manteve contatos por telefone a respeito da crise com o premiê britânico, Gordon Brown, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, e o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi. A possibilidade de realizar uma reunião de emergência vinha sendo levantada nos últimos dias por diferentes líderes internacionais e ganhou fôlego após chefes de governo diversos terem feito apelos para que se chegasse a uma solução coordenada para conter a crise.
Nesta sexta-feira se dará também em Washington um encontro do G7 - o grupo constituído pelas maiores economias globais - para discutir medidas que podem ser tomadas para acalmar os mercados.
Ação conjunta
Henry Paulson defendeu a necessidade de se agir coletivamente para amainar os efeitos da turbulência financeira que se originou nos Estados Unidos. Os governos têm agido tanto individualmente como coletivamente e precisam continuar a fazê-lo, para gerar uma liquidez muito necessária, fortalecer as instituições financeiras por meio da geração de capital e proteger as poupanças de nossos cidadãos. Henry Paulson, secretário do Tesouro dos Estados Unidos"Os governos têm agido tanto individualmente como coletivamente e precisam continuar a fazê-lo, para gerar uma liquidez muito necessária, fortalecer as instituições financeiras por meio da geração de capital e proteger as poupanças de nossos cidadãos'', afirmou. Paulson acrescentou ainda que as diferentes nações devem ter a cautela de ''assegurar que nossas ações são coordenadas de perto e comunicadas, para que a ação de um país não se dê às custas de outro ou às custas da estabilidade do sistema com um todo''. Nas últimas semanas, Bancos Centrais dos diferentes países vêm mantendo consultas a fim de adotarem soluções conjuntas capazes de atenuar os efeitos do atual caos econômico. Nesta quarta-feira, os bancos centrais dos Estados Unidos (Fed), Inglaterra, Suécia, Suíça e Canadá deram uma amostra de como são capazes de agir em conjunto, ao anunciarem um corte emergencial das taxas de juros.

FMI
Também nesta quarta-feira, o governo da Grã-Bretanha anunciou detalhes de um pacote no valor de até 500 bilhões de libras esterlinas (o equivalente a cerca de US$ 880 bilhões) para resgatar o sistema bancário do país. Em outro desdobramento relacionado à crise financeira global, o FMI divulgou um novo relatório anual, o Panorama Econômico Mundial, em que afirma que haverá um desaquecimento acelerado da economia global neste ano. Depois de mais um dia de instabilidade, as principais bolsas de valores do mundo encerraram a quarta-feira no vermelho, refletindo o persistente pessimismo em relação à economia. Em Nova York, o índice Dow Jones fechou o dia em -2%. Na Europa, o índice FTSE da bolsa de Londres ficou em -5,18% e, em Tóquio, o Nikkei teve mais uma queda acentuada, de -9,38% (a maior queda desde 1987).

Os mercados europeus operam com fortes perdas nesta sexta-feira, seguindo uma seqüência de resultados no vermelho registrados na Ásia.
As bolsas abriram com perdas em torno de 10%, mas se recuperaram levemente e, às 14h de Londres (10h de Brasília), a queda registrada pelo índice FTSE 100 da bolsa de Londres alcançava 8,1%. Em Frankfurt, o DAX recuava 9%, e em Paris o índice CAC 40 caía 8,5%. As perdas nos mercados europeus acompanham a acentuada queda das bolsas asiáticas. Em Tóquio, a bolsa mais importante da região, o índice Nikkei 225 chegou a cair 11%, terminando negativo em 9,62% aos 8.276,43 pontos, o pior resultado desde o que os japoneses chamam de “Sexta-Feira Negra”, em outubro de 1987. Em Hong Kong, o índice Hang Seng caiu para abaixo de 15 mil pontos pela primeira vez desde janeiro de 2006. Fechou com queda de 7,19% aos 14.796,87 pontos. Na Bolsa de Xangai o índice Composite terminou com perdas de 3,57% aos 2.000,57 pontos.“É uma completa perda de confiança”, disse o gerente geral da Fulbright Securities em Hong Kong, Francis Lun.“Acho que o mercado ainda está procurando pelo fundo do poço, procurando suporte, e o fundo não virá até que os investidores estejam convencidos de que a estabilidade voltou aos mercados financeiros. Nesse momento, na Europa e nos Estados Unidos os mercados financeiros estão em turbulência.” Na Rússia, as negociações na Bolsa de Valores de Moscou foram suspensas indefinidamente, em uma tentativa de conter a volatilidade do mercado.

Setor produtivo
Segundo analistas, as incertezas em relação à extensão da crise financeira para a economia global ainda permanece como fonte de preocupação. As ações de bancos lideram as perdas, mas papéis de setores produtivos também sofrem.No mercado americano, as ações da fabricante automotiva GM, uma das 30 que compõe o índice Dow Jones, já vale o mesmo que valia há 58 anos. O papel caiu 31% de seu valor na quinta-feira, fechando cotado a US$ 4,76. “O importante agora não é o que acontece com as ações, é o que acontece com o crédito, porque, a não ser que o dinheiro circule na economia através dos mercados de crédito, através do sistema bancário, é essencialmente como um ser humano sem o sangue circulando nas veias”, disse Gillian Tett, um dos jornalistas que cobriu a crise bancária do Japão nos anos 1990. “Nossa economia não pode funcionar se o crédito não a mantiver em movimento, e infelizmente, ao longo das semanas passadas, tivemos uma situação em que o crédito coagulou.”
Ações
A queda nas bolsas nesta sexta-feira ocorre apesar de tentativas de líderes mundiais de garantir a estabilidade das economias e acalmar os mercados financeiros. Nesta sexta-feira, o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, pediu a líderes de todo o mundo que atuem para aumentar a liquidez do sistema bancário, e reconstruam a confiança do sistema bancário para reativar os empréstimos entre os bancos. “Este é um problema global, que requer uma solução global”, escreveu Brown em um artigo no jornal The Times. Ministros das Finanças do G7, o grupo de economias mais industrializadas do mundo, se encontrarão para discutir a crise mundial em Washington no sábado. Está também previsto um encontro do chamado G20, grupo de formado pelas nações mais ricas do mundo e as principais economias emergentes. Além dos países do G7, o grupo inclui Brasil, África do Sul, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, China, Coréia do Sul, Índia, Indonésia, México, Rússia, Turquia e União Européia. O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, disse que a instituição ativou um mecanismo de emergência que disponibiliza imediatamente US$ 200 bilhões para ajudar países seriamente afetados pela crise financeira global. O mecanismo, criado em 1995, foi usado pela primeira vez durante a crise asiática de 1997, quando Tailândia, Filipinas, Indonésia e Coréia do Sul foram beneficiados. Para um analista de mercado, ainda tardará até que os mercados respondam às medidas anunciadas pelos líderes e instituições internacionais.
“Claramente, os mercados estão em crise. Não se pode simplesmente jogar uma pílula mágica neles e de repente tudo fica bem”, disse o economia Don Smith, da corretora ICAP.
“Eles têm de estar confiantes, e confiança é algo potencialmente frágil que leva muito tempo para restaurar. É preciso tempo.”

Bush diz a Lula que pacote contra crise terá efeito em 20 dias
Lula disse a Bush que o Brasil enfrenta a crise num momento de solidez, o que foi confirmado pelo americano

BRASÍLIA - O presidente dos Estados Unidos George W.Bush telefonou às 14h10 para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para comentar a crise financeira mundial, informou nesta quarta-feira, 8, fonte do Palácio do Planalto. No telefonema, Lula perguntou se Bush tinha idéia de quanto tempo levaria para que as medidas do pacote tivessem efeito no mercado. Bush respondeu que as medidas teriam efeito em duas semanas e meia. No final de semana, o presidente Lula telefonou para Bush que só hoje retornou a ligação. Na conversa, de quinze minutos, Lula felicitou o presidente americano pela aprovação do pacote de ajuda financeiro pelo Congresso e disse que, na avaliação dele, é um passo para o reequilíbrio da economia.Segundo a mesma fonte, Lula disse a Bush que o Brasil enfrenta a crise num momento de solidez econômica, o que faz com que o país esteja mais preparado para enfrentar possíveis abalos que em momentos anteriores.Bush, ainda segundo a fonte do Planalto, concordou que o Brasil tem plataforma sólida devido aos bons fundamentos da economia. O presidente americano ressaltou que os Estados Unidos tem uma desvantagem a mais por ter sido atingido pela crise num momento de declínio de suas atividades econômicas.Ainda na conversa, Lula disse a Bush que era preciso criar mecanismos de controle do mercado financeiro, como já havia ressaltado no discurso que fez em setembro na abertura da assembléia anual da Organização das Nações Unidas (ONU). Lula ainda ressaltou a importância da conclusão da rodada comercial Doha, para o livre comércio mundial. Um acordo, segundo o presidente Lula, seria um forte sinal positivo para minimizar os efeitos da crise na economia mundial.
A cronologia da crise financeira
SÃO PAULO - Entre 2004 e 2006: problemas no subprime

Depois de dois anos, entre 2004 e 2006, quando a taxa de juros subiu de 1% para 5,35%, o mercado imobiliário americano começou a sofrer, com preços dos imóveis caindo e aumento na inadimplência de mutuários. A inadimplência em empréstimos do tipo subprime - hipotecas de alto risco para pessoas com histórico ruim de crédito - atingiu níveis recordes.

Abril a agosto de 2007: contágio do subprime

Abril

A New Century Financial, especializada em empréstimos subprime, pediu concordata e demitiu metade dos seus funcionários.Com suas dívidas sendo repassadas para outros bancos, o mercado subprime começou a entrar em colapso.

Julho

O banco de investimentos Bear Stearns diz que seus investidores não conseguirão resgatar o dinheiro investido em seus fundos hedge. O diretor do Federal Reserve (o banco central americano), Ben Bernanke, diz que a crise do subprime pode custar US$ 100 bilhões.

Agosto 2007: Tamanho da crise é revelado

9 de agosto
O banco de investimentos PNB Paribas diz a seus investidores que eles não conseguirão resgatar seus investimentos, devido à "completa evaporação da liquidez" do mercado. É um sinal claro de que os bancos estão se recusando a emprestar dinheiro uns aos outros. O Banco Central Europeu investe 95 bilhões de euros no setor bancário, para melhorar a liquidez. Em seguida, mais 108,7 bilhões de euros são investidos. Os bancos centrais dos Estados Unidos, Canadá e Japão começam a intervir.

17 de agosto
O Federal Reserve corta pela metade a taxa de juros para empréstimos a bancos, para 5,75%.

Setembro 2007: Corrida aos bancos

13 de setembro
O banco britânico Northern Rock pediu e recebeu ajuda financeira emergencial do banco central britânico. No dia seguinte, os correntistas retiraram mais de US$ 2 bilhões, em uma das maiores fugas de capital da Grã-Bretanha.

18 de setembro
O Federal Reserve corta a taxa de juro em meio ponto percentual, para 5,75%.

Outubro de 2007: perdas começam a surgir
No dia 1º, o banco suíço UBS revelou perdas de US$ 3,4 bilhões. Em seguida, o gigante Citigroup divulgou que perdeu US$ 3,1 bilhões com o mercado subprime - US$ 40 bilhões no acumulado de seis meses. No fim do mês, o diretor do Merrill Lynch se demite, depois de revelar que o banco tinha US$ 7,9 bilhões de dívidas que incluíam papéis podres.

Dezembro 2007: Ajuda do governo
No dia 6, o presidente americano, George W. Bush, anunciou um plano para ajudar milhões de mutuários com problemas. O Federal Reserve coordenou ao lado de cinco bancos centrais uma ação para empréstimos a outros bancos.

Fevereiro e março 2008: Nacionalizações e compras

7 de fevereiro
Ben Bernanke alerta para os efeitos da crise do sistema financeiro na economia real. Os líderes do G7 (grupo dos sete países mais industrializados do mundo) dizem que as perdas com o mercado subprime podem chegar a US$ 400 bilhões. O governo britânico nacionaliza o banco Northern Rock.

Em março, o Federal Reserve disponibiliza mais US$ 200 bilhões para bancos em dificuldade. No dia 17, o quinto maior banco americano, Bear Stearns, é comprado pelo JP Morgan Chase por US$ 240 milhões (um ano antes, o banco valia US$ 18 bilhões).

Abril 2008: Mais efeitos na Europa

8 de abril
O Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta que as perdas devido à crise financeira internacional podem chegar a US$ 1 trilhão ou até ultrapassar esta marca. Segundo o FMI, os efeitos da crise estão se espalhando para outros setores como crédito ao consumidor e dívidas de empresas. Dois dias depois o Banco da Inglaterra diminui sua taxa de juros para 5%, um corte de 0,25%.

21 de abril
O Banco da Inglaterra divulga os detalhes de um plano ambicioso, da ordem de 50 bilhões de libras (cerca de R$ 171 bilhões) para ajudar bancos, um plano que permitiria que estes bancos trocassem dívidas de hipoteca que potencialmente arriscadas por títulos do governo, mais seguros.

Abril a junho de 2008: Bancos tentam conseguir dinheiro

22 de abril
O banco britânico Royal Bank of Scotland anuncia o plano para levantar dinheiro junto aos acionistas, lançando novas ações no mercado, que chegam ao valor 12 bilhões de libras (mais de R$ 41 bilhões), o maior lançamento de ações da história corporativa da Grã-Bretanha.

2 de maio
O banco UBS, um dos mais afetados pela crise financeira mundial, também lança ações no valor de US$ 15,5 bilhões para cobrir parte de suas perdas, que chegaram a US$ 37 bilhões, mais do que qualquer outro banco afetado pelas turbulências do mercado internacional.

19 de junho
O FBI prende 406 pessoas, incluindo corretores e empreiteiros, como parte de uma operação contra supostas fraudes em financiamentos habitacionais, que alcançaram valor de US$ 1 bilhão.

25 de junho
Outro banco britânico, desta vez o Barclays, anuncia os planos para levantar 4,5 bilhões de libras (cerca de R$ 15,4 bilhões) com lançamento de ações.

Julho de 2008: Grandes financiadores no limite

13 de julho
O banco de hipotecas americano IndyMac entra em colapso e se torna o segundo maior banco a falir na história dos Estados Unidos.

14 de julho
Autoridades financeiras dos Estados Unidos prestam assistência às duas gigantes do setor de hipotecas, Fannie Mae e Freddie Mac. Juntas, as duas companhias são responsáveis por quase metade das hipotecas dos Estados Unidos e detêm ou garantem cerca de US$ 5,3 trilhões em financiamentos e são cruciais para o mercado imobiliário americano.

Agosto a setembro de 2008: Outros gigantes sofrem

4 de agosto
O gigante do setor bancário HSBC alertou que as condições dos mercados financeiros são as mais difíceis "das últimas décadas", depois de sofrer uma queda de 28% em seus lucros semestrais. Dos grandes bancos europeus, o HSBC estava entre os mais atingidos pela crise do mercado imobiliário e de crédito dos Estados Unidos.

30 de agosto
O ministro da Fazenda britânico, Alistair Darling, afirma que a economia da Grã-Bretanha enfrenta sua pior crise dos últimos 60 anos em uma entrevista ao jornal The Guardian.

1º de setembro
Dados oficiais do Banco da Inglaterra mostram queda na aprovação de hipotecas em julho.
5 de setembro
Números do mercado de trabalho americano mostram que a taxa de desemprego no país subiu para 6,1%, causando ainda mais turbulência nos mercados financeiros.
7 de setembro
O governo dos Estados Unidos anuncia que está assumindo o controle das empresas de hipoteca Freddie Mac e Fannie Mae, numa operação que foi considerada uma das maiores do gênero na história americana. O secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, afirma que os níveis das dívidas das duas companhias significavam um "risco sistêmico" para a estabilidade econômica e que, se o governo não agisse, a situação poderia piorar.

10 de setembro
O Lehman Brothers, o quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos, registra perdas de US$ 3,9 bilhões nos três meses anteriores a agosto. O anúncio ocorre em meio a mais alertas econômicos feitos pela Comissão Européia, afirmando que Grã-Bretanha, Alemanha e Espanha poderão entrar em recessão até o final de 2008.

15 de setembro
Depois de dias em busca por um comprador, o Lehman Brothers entra com pedido de concordata, se transformando no primeiro grande banco a entrar em colapso desde o início da crise financeira. O ex-presidente do Fed Alan Greenspan afirma que outras grandes companhias também poderão cair. No mesmo dia, o Merrill Lynch, um dos principais bancos de investimento americanos, concordou em ser comprado pelo Bank of America por US$ 50 bilhões para evitar prejuízos maiores.

16 de setembro
O Federal Reserve anuncia um pacote de socorro de US$ 85 bilhões para tentar evitar a falência da seguradora AIG, a maior do país. Em retorno, o governo assumirá o controle de quase 80% das ações da empresa e o gerenciamento dos negócios. Lehman Brothers fecha acordo para vender partes suas as operações de brokers e dealers para o britânico Barclays.

17 de setembro
Imprensa noticia que o Washington Mutual (WaMu), financiador de hipotecas e maior instituição de poupança dos Estados Unidos, se colocou em leilão como forma de ampliar os esforços para se salvar, em meios aos graves problemas financeiros que atravessa.

23 de setembro
O japonês Nomura Holdings chega a um acordo para comprar por US$ 225 milhões a filial do Lehman Brothers na Ásia Pacífico.

25 de setembro
Outro gigante do setor de hipotecas dos Estados Unidos, o Washington Mutual, é fechado por agências reguladoras e vendido para seu adversário, o Citigroup.

28 de setembro
A crise se alastra mais pelo setor bancário europeu com a nacionalização parcial do grupo belga Fortis, para garantir sua sobrevivência. Autoridades na Holanda, Bélgica e Luxemburgo aceitaram investir 11,2 bilhões de euros na operação. Nos Estados Unidos, legisladores anunciaram que chegaram a um acordo bipartidário para aprovação do pacote de US$ 700 bilhões para salvar instituições financeiras afetadas pela crise.

29 de setembro
A Câmara dos Representantes (deputados) dos Estados Unidos rejeita o pacote de US$ 700 bi proposto pelo governo americano para socorrer instituições financeiras afetadas pela crise. Os legisladores retomam as negociações para realizar uma nova votação na casa.

O Wachovia, o quarto maior banco americano, é comprado pelo Citigroup, em um acordo de resgate que conta com o apoio das autoridades americanas. Segundo este acordo o Citigroup vai absorver até US$ 42 bilhões dos prejuízos do Wachovia.

Na Grã-Bretanha, o governo confirmou a nacionalização do banco de hipotecas Bradford & Bingley. O governo assume o controle de financiamentos e empréstimos do banco no valor de 50 bilhões de libras (cerca de R$ 171 bilhões) enquanto suas operações de poupança e agências são vendidas para o Santander, da Espanha.

O governo da Islândia assume o controle do terceiro maior banco do país, Glitnir, depois que a companhia teve problemas com fundos de curto-prazo.

Outubro
06/10/2008

Dow Jones tem a maior queda em pontos de sua história
O mercado norte-americano de ações fechou em queda forte, com o índice Dow Jones registrando sua maior queda em pontos de todos os tempos e fechando no nível mais baixo desde 27 de outubro de 2005. O S&P-500 teve sua maior queda porcentual desde o "crash" de 26 de outubro de 1987. O Nasdaq fechou no nível mais baixo desde 13 de maio de 2005, pouco depois de estourar a "bolha" das ações de tecnologia. O mercado reagiu à rejeição, pela Câmara dos EUA, do pacote de US$ 700 bilhões em socorro às instituições financeiras. A rejeição, com 205 votos a favor e 228 contra, surpreendeu os participantes do mercado, que haviam acompanhado as negociações entre as lideranças partidárias durante o fim de semana e estavam otimistas quanto à aprovação. A presidência da Câmara chegou a manter a votação aberta por 40 minutos (depois de esgotados os 15 minutos regulamentares para votação) e alguns deputados, pressionados, chegaram a mudar seus votos, mas isso não afetou o resultado final. "É de estraçalhar os nervos. Acho que a maioria das pessoas previa que o projeto do Congresso seria aprovado", comentou Thomas Benfer, da BMO Capital Markets. Scott Peterson, porta-voz da Bolsa de Nova York, observou que uma onda de ordens de venda no momento do fechamento causou uma demora de mais de 20 minutos, depois de soar o sino que marca o encerramento do pregão, para que todos os ajustes no Dow se processassem. "Havia desequilíbrios enormes no fechamento, maiores do que o mercado podia absorver", disse Peterson. As ações do banco Wachovia, cuja aquisição pelo Citigroup havia sido anunciada no fim de semana, foram suspensas e só passaram a ser negociadas depois das 15h30 (de Brasília); elas fecharam em queda de 81,60%; as do Citigroup, por sua vez, recuaram 11,91%. As do banco regional National City Corp., objeto de rumores sobre sua saúde financeira, perderam 63,34%. Outros destaques negativos no setor financeiro foram Fifth Third Bancorp (-43,63%) e Bank of New York Mellon (-18,77%). Além de Citigroup, as outras componentes do Dow que tiveram quedas maiores do que 10% foram JPMorgan Chase (-15,01%), Intel (-10,05%), General Motors (-12,81%), Chevron (-10,87%), Bank of America (-17,58%) e American Express (-17,60%). O índice Dow Jones fechou em queda de 777,68 pontos (-6,98%), em 10.365,45 pontos (mínima do dia); a máxima foi em 11.139,94 pontos. O Nasdaq fechou em queda de 199,61 pontos (-9,14%), em 1.983,73 pontos (mínima do dia); a máxima foi em 2.152,69 pontos. O S&P-500 caiu 106,59 pontos (-8,79%), para fechar em 1.106,42 pontos (mínima do dia).

Títulos
Os preços dos títulos do Tesouro dos EUA (Treasuries) dispararam, com queda forte nos juros. Os investidores buscaram a suposta segurança dos Treasuries em reação à rejeição do pacote de socorro às instituições financeiras pela Câmara. "Se essa lei não for aprovada, as conseqüências serão graves para o mercado financeiro e para a economia. O crédito vai ficar ainda mais apertado, o que vai levar a demissões e falências em massa. O Congresso deveria saber quão sérios são os problemas que estamos enfrentando neste momento", comentou o estrategista Josh Stiles, da IdeaGlobal. Outro participante do mercado disse acreditar que o mercado de títulos de curto prazo deverá "congelar" nesta terça-feira. No fechamento em Nova York, o juro projetado pelos T-Bonds de 30 anos estava em 4,160% ao ano, de 4,357% na sexta-feira; o juro das T-Notes de 10 anos estava em 3,628%, de 3,851% na sexta-feira; o juro das T-Notes de 2 anos estava em 1,720%, de 2,132% na sexta-feira. As informações são da Dow Jones.

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